quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Não sabe de si mesmo a sua imagem..."

Monalisa, Leonardo da Vinci, 1507
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A arte é como uma ciência estética, tem vários segmentos e significados, quase sempre de densidade intraduzível. Ser compreendida das mais variadas formas, confere uma atmosfera atraente, inesgotável de possibilidades. Porém, algumas manifestações artísticas causam uma espécie de inquietação abissal. Uma admiração calcada no estranhamento, incompreensão, repulsa ou desconforto. Fiquei pensando à respeito quando o volume denso de uma leitura arranhou as paredes do meu esôfago. Um, dois... cinco copos d’água, A "História do Olho" desceu engasgada. E tal como ela, outras tantas. Se a arte se legitima ao ensimesmarmo-nos diante de sua representatividade, o que dizer quando isso acontece à palo seco?!.
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História do Olho, Georges Bataille, 1928
Violência e obscenidade formam uma mistura explosiva, sobretudo aqui, usadas como recurso criativo para subverter a visão comum. O corpo, vida/morte, o desejo, são retratados de uma forma bem libertadora. Lembro desse livro ter sido indicado na época da faculdade. Por algum motivo não li. Ainda bem, não estava preparada psicologicamente, sem trocadilhos.
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Lolita, Vladimir Nabokov, 1955
Um banho de prosa da mais eloqüente beleza estética para falar de uma paixão obsessiva. Como se paixões não fossem suficientemente perturbadoras, esta se realiza na rascante e insidiosa relação de um homem de meia-idade e uma pré-adolescente.
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Salò ou 120 dias de Sodoma, Pier Paolo Pasolini, 1975
Inspirado no livro do Marquês de Sade, este foi o último e mais chocante filme do diretor italiano. Abusa da perversão, fetiches, escatologias, torturas físicas, voyerismo... é um retrato repulsivo do que pode existir de pior no ser humano.
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Eraserhead, David Lynch, 1977
Pode-se afirmar que o diretor criou uma linguagem própria. Um universo lynchiano por assim dizer. O mais notável é que essa brincadeira com o real e o imaginário esteja impressa desde o seu primeiro filme.
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Laranja Mecânica, Stanley Kubrick, 1971
Kubrick trata fundamentalmente de livre arbítrio. É possível mudar a concepção moral de um homem, sua essência, suas compulsões? Clássico!
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Sete Pecados Capitais, Hieronymus Bosch, 1504
"Cuidado, cuidado, Deus vê" é o que se lê em latim no centro do painel. A esfera central tem o aspecto de um olho humano, Cristo estaria então dentro da pupila. Pecado, tentação, inferno, paraíso, imagens apocalípticas, tudo retratado com supremo aspecto alegórico.
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A Origem do Mundo, Gustave Courbet, 1866

O quadro representa a libertação do artista de todos os estereótipos. A nudez feminina antes de 'A origem', era retratada de forma quase mitológica. Com o realismo de Courbet o mito é deixado de lado, dando lugar a uma mulher real, nas formas, na sugestão do corpo como fonte de prazer. Essa realidade ostensiva provoca ainda hoje as reações mais inquietantes. Uma curiosidade: antes de pertencer ao acervo do Museu D’Orsay, seu último proprietário foi o psicanalista Jacques Lacan.
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El Sueño de La Razon Produce Monstruos, Goya, 1798
Amargura, tristeza, agressividade, melancolia, crueldade, são os temas dessa série de 80 gravuras intitulada "Os Caprichos". Representam a contestação política do artista com a Espanha daquela época.
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Meu Nascimento, Frida Kahlo, 1932

Para Frida, este quadro representa a forma como imaginava o seu nascimento. Ela o pintou depois de sofrer seu segundo aborto espontâneo e do falecimento de sua mãe. A pintura da margem à imaginação. A genitora morta dando à luz a uma Frida também sem vida, seu sentimento mortificado pelas perdas. Ou talvez uma alusão ao relacionamento incompatível que mantinham. Fica implícita uma sensação de abandono materno.
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La Pietá, Michelangelo, 1499
Existe algo mais perturbador do que a beleza irretocável?!
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"A fragilidade é bela porque a fragilidade é um sinal da existência.
A beleza é a harmonia do acaso e do bem.
A beleza seduz a carne para obter permissão de passar à alma.
O belo é um atrativo carnal que mantêm à distância e implica uma renúncia. Inclusive a renúncia mais íntima, a da imaginação. Queremos devorar todos os outros objetos de desejo. O belo é o que desejamos sem querer devorá-lo. Desejamos que seja assim.
A distância é a alma do belo.
O olhar e a espera, eis a atitude que corresponde ao belo. Enquanto podemos conceber, querer, desejar, o belo não surge. Por isso, em toda beleza há contradição, amargura, ausência irredutíveis..."
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Simone Weil.
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