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domingo, 26 de outubro de 2014

"Venham embora, palavras, para onde o sentido não se engrosse com a substância impaciente da voz..."

Dante in exile, John Elliott, 1904 
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Eu também não gosto dela: há coisas bem mais importantes que
[toda esta frioleira.
Lendo-a, porém, com um profundo desprezo por ela, a gente descobre
nela, de qualquer modo, um lugar para o que é genuíno.
Mãos que podem reter, olhos
que podem se ampliar, cabelos que podem se eriçar
se for preciso, essas coisas são importantes, não porque

uma altissonante interpretação lhes possa ser dada mas porque são
utéis. Quando elas começam a derivar a ponto de se tornarem ininteligíveis,
a mesma acusação pode ser feita a nós outros,
que não admiramos o que
não podemos entender: o morcego
pendente de cabeça para baixo ou à procura de algo para

comer, elefantes se empurrando, um cavalo selvagem rolando, um lobo
[incansável sob
uma árvore, o crítico imóvel com arrepios na pele como um cavalo que
[sente uma pulga, o torcedor de baseball,
o técnico em estatística...
E nem vale o argumento
para discriminar entre "documentos profissionais e

livros escolares";  todos esses fenômenos são importantes. É preciso fazer
[uma distinção, 
porém: quando arrastada à fama por meios-poetas, o resultado
[não é poesia,
a menos que os poetas entre nós possam ser
"interprétes rigorosos da
imaginação" - acima 
de insolência e trivialidades e que possam apresentar

para inspeção, jardins imaginários contendo rãs verdadeiras; então
[nós a teremos
encontrado. Neste ínterim, se você exige para uma mão
o rude material da poesia em 
toda a sua rudeza e 
para o que está na outra mão
legitimidade, então você se interessa por poesia.
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Marianne Moore.
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domingo, 4 de dezembro de 2011

"Irrecuperável, a vida vaza. Ponham embaixo vasos e vasilhas! Todas as vasilhas serão rasas, parcos os vasos..."

L'Allegoria della vita umana, Guido Cagnacci, séc. XVII.
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O que é nossa inocência,
nossa culpa? Frágeis, somos,
vulneráveis. E de onde vem a
coragem: a pergunta sem resposta,
a resoluta dúvida –
muda chamando, surda ouvindo – que
no infortúnio, na morte mesmo,
encoraja outras ainda
e em sua derrota anima
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a alma a ser forte? Compraz-se
e com perspicácia vê
quem a mortalidade abrace
e no confinamento contra si
mesmo se volte, assim
como o mar que no abismo intenta ser
livre mas, incapaz de ser,
no ato de capitular
encontra seu perdurar.
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Quem no sentimento espera
assim age. O próprio pássaro,
que ao cantar se engrandece, acera
o corpo aprumado. Embora cativo,
seu poderoso trino
diz: o contentamento é humilde;
quão puro é o regozijo.
Isto é mortalidade,
isto é eternidade.

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Marianne Moore.
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