quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"Estou escrevendo umas coisas loucas..."

A Obscena Senhora Silêncio, direção de Leandra Lambert, 2010
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Há tanto a te dizer agora! Meus olhos se gastaram
Procurando a palavra nas figuras, nos textos, nas estórias.
Era preciso viajar e levantada em renúncias redescobrir
.....................................................................................[ a morte
Além de seu sudário e suas tremuras. Quase nada 
...............................................[ aprendi. De nada me lembrei.
Há talvez a memória de tatos, um sentir rarefeito, um
........................................................................ [ ouvido inexato.
Deitado em solidão sobre o teu peito. E adeuses
..................................................[ ingênuos, calados de vitória
E aquele de fereza, de acerto, dissolvido em orgulho, 
............................................................................[ ressuscitado
Vagamente em canto. E na manhã, o meu sonho passara
..........................................................................[ e a minha voz 
Não se erguera em poesia.

Será preciso esquecer o contorno de umas formas que
.....................................................................[ vi: naves, portais
E o grande crisântemo sobre a faixa restrita do canteiro.

Através do gradil, no terraço do tempo te percebo.
E ainda que as janelas se fechem, meu pai, é certo que
...............................................................................[ amanhece.
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Hilda Hilst.

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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"Para que nada seja definitivo - nem esta ânsia de palavras nem o dito e o contradito..."

Study Sketch for Morning Sun, Edward Hopper, 1952
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Vós, palavras, de pé, sigam-me!
e se já fomos longe,
longe demais, ainda se vai
mais longe, vai-se para
nenhum fim.
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Não fica mais claro.
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A palavra
irá apenas
arrastar com ela outras palavras,
a frase frases.
Assim o mundo queria
definitivamente
impor-se,
estar já dito.
Não o digam.
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Palavras, sigam-me!
Para que nada seja definitivo
- nem esta ânsia de palavras
nem o dito e o contradito.
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Não deixem por um instante ainda
nenhum dos sentimentos falar,
que o músculo coração
se exercite de outra forma.
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Não deixem, vos digo, não deixem!
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Ingeborg Bachmann.
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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás..."

The Wanderer Above The Mists, Caspar David Friedrich, 1818
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O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.

O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.

O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.

O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e, entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual,
de desejo e desespero.

Cecília Meireles.
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domingo, 1 de setembro de 2013

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