sábado, 30 de maio de 2009

Sonhos possíveis são melhores que realidades inventadas.


Oren Lavie,
Her Morning Elegance
.
.
.
"Como captar da vida
o que rápido, foge
entre dúvidas? Como
reter o que, mal surge,
já se desfaz: é sombra,
algo vago, já neutro,
réstia pálida, eco
de nada, de ninguém?
Um minuto se esboça,
rútilo se sonha,
ardente se anuncia.
Onde? Quando? Quem sabe?
Sempre se sabe tarde,
sem mais onde, nem quando."

.
.Emílio Moura, in: Itinerário poético.
.
.

domingo, 24 de maio de 2009

"a cabeça em maresia..."

Awaiting The Fishermen's Return, Josef Israëls, d.i
.

.
"Em praias de indiferença
navega meu coração.
Venho desde a adolescência
na mesma navegação.
Por que mar de tanta ausência,
e areias brancas de tão
despovoada inconsistência,
de penúria e de aflição?
(Triste saudade que pensa
entre resposta e a intenção!)
Números de grande urgência
gritam pela exatidão:
mas a areia branca e imensa
toda é desagregação!
Em praias de indiferença
navega meu coração.
Impossível, permanência.
Impossível, direção.
E assim por toda a existência
navegar, navegarão
os que têm por toda ciência
desencanto e devoção."


Cecília Meireles,
in: Mar Absoluto.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Re[compassos]

Sueño No. 46 Extraniamiento, Grete Stern, 1948
.
.
.
"Tem horas em que penso que a gente carece, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto."
.
João Guimarães Rosa, in: Grande Sertão: Veredas.

.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Com[passos]

.
.
.
"Não estou falando de um mundo cor-de-rosa ou de pessoas perfeitas, sempre prontas para nos acolher, amar, caminhar ao nosso lado. Não falo disso, mas da tristeza nos olhos de quem vira as costas e a gente não vê. A beleza por dentro de um peito encouraçado que a gente não sente. A solidão de quem afasta um amor e se deita em camas tão frias. É do instante quando os olhos se perdem no nada e nenhuma mentira é capaz de enganar a si mesmo. É desse instante solitário, desse instante sem abraço, que eu digo. Todo mundo vai virar as costas ou dizer que merece coisa melhor ou debochar das mentiras que eles contaram... mas a gente pode sempre voltar e acolher com amor, ser os primeiros a começar. Afinal, se a hostilidade do mundo despertar a nossa, quem vai ser o primeiro a sorrir?"


Rita Apoena
.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Um saber que não se sabe..."

Haven, Vladimir Kush, 2001
.
.
.

Alguns leitores do blog indagaram-me sobre, digamos, um tom excessivamente melancólico nos textos.

Não teci grandes considerações, mas fui registrando os comentários e percebi que originam-se de um mesmo processo.

Simplificamos a observação do outro e seus aspectos multiplurais, pela correria diária e fundamentalmente, porque a abordagem do íntimo alheio esbarra na nossa.

Por um motivo ou por outro, nos acostumamos a olhares óbvios. Categorizações extremas.

Se é... bom ou mal / sincero ou mentiroso / responsável ou inconseqüente / bonito ou simplório / com ou sem silicone / feliz ou melancólico / polido ou extravagante / transparente ou dissimulado...

Antagonismos que subestimam a complexidade do que forma seres humanos cheios de dilemas e aspirações.

Esqueça os fusos, comprometa-se em enxergar através do outro aquilo que não compreende, o que te aflige, assombra, humaniza, encanta.

Saiba que eu, você, qualquer um, pode ser qualquer coisa, SOBRETUDO LIMITADOS. Com essa idéia em mente, praticamos o autoconhecimento, julgamos menos e "entendemos", m
esmo quando tudo que se tem, é um enorme silêncio.
.
.
* * *
.
"Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua."

Simone de Beauvoir.



LinkWithin

Related Posts with Thumbnails