sábado, 26 de junho de 2010

Das coisas ininteligíveis...

Psyque Opening The Golden Box, John William Waterhouse, 1903.
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"Não sou idêntica a mim mesma
sou e não sou ao mesmo tempo, no mesmo lugar
e sob o mesmo ponto de vista."
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Ana Cristina Cesar.
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Enxertos...

My Wife, Naked, Looking at Her Own Body, Salvador Dalí, 1945
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(...) Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
Que vão se arrumando em torno de mim.
Tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros, outra de sapatos.
Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto.
Tenho camadas de cosméticos e de adereços.
Uma camada de nomes e de coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta.

Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços.
Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno.
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo)

Descanso recostada nas paredes da casa
Que me guardam como um abraço.
Me abraço quando me derramo na sala.
E na cozinha. Em geral adormeço no quarto.

Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo.
Com os olhos. Ou com as mãos.
Minha casa tem silêncios
Que às vezes ouço. Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda.
Que às vezes ouço. E faço poemas.
Faço poemas dos silêncios que ouço.
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Viviane Mosé, in: Desato.

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

"esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo..."

José Saramago
16/11/1922 - 18/06/2010
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"...esse é um dos efeitos do tempo, apagar."
José Saramago, in: A Jangada de Pedra.
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"Ensaio sobre a lucidez", segunda parte da entrevista concedida ao jornalista Edney Silvestre em 2007 *
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* a primeira parte da entrevista, aqui
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terça-feira, 15 de junho de 2010

Agenda: Yo-Yo Ma e Festival Cinesul


Chega de Saudade, Yo-Yo Ma e Rosa Passos, a música integra o CD "Obrigado Brasil Live In Concert"
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Após meses de reforma, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro retorna exuberante e com uma programação respeitável. A série "Dell’Arte Concertos Internacionais" faz parte do programa 2010, e recebe no dia 18, o violoncelista francês de ascendência chinesa, Yo-Yo Ma.
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Além de virtuoso, o músico é de uma versatilidade impressionante. Interpreta de Bach à Chopin, de Tom Jobim à Piazzola. Já gravou grandes concertos dos períodos Clássico e Romântico, além de todo o repertório Barroco para violoncelo. Tamanho ecletismo será visto no recital do Municipal, com um programa que inclui músicas de Brahms, Rachmaninov, Graham Fitkin, Ennio Morricone, George Gershwin e César Camargo Mariano.
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Yo-Yo Ma: Série Dell’Arte Concertos Internacionais

Theatro Municipal
Pça. Floriano, s/nº, Cinelândia
Ingressos:
- Frisa/Camarote: R$ 2.520,00
- Platéia: R$ 420,00 (esgotado)
- Balcão nobre: R$ 420,00 (esgotado)
- Balcão superior: R$ 250,00
- Galeria: R$ 120,00
Dia 18 de Junho, às 20:00
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Mentiras Piadosas, filme de Diego Sabanés, adaptação do conto "La Salud de Los Enfermos", do Julio Cortázar, concorre na categoria longa-metragem de ficção
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Começa hoje a 17ª edição do Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo, o Cinesul.
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O festival audiovisual reúne representantes de toda a América Latina, Portugal e Espanha. Foram selecionados 74 filmes para a mostra competitiva, 20 longas e 54 curtas e médias-metragens. Outros 180 trabalhos serão exibidos em mostras paralelas, como "Foco Espanha", "Cinesul Ambiental", "Bossas Musicais", "Brasil Real", "Cinesul Animado", "Futebol Latino", entre outras.
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Cinesul: Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo
Locais de exibição:
- Centro Cultural Banco do Brasil: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
- Centro Cultural dos Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro
- Cinemateca do Museu de Arte Moderna: Av. Infante Dom Henrique 85, Flamengo
- Ponto Cine: Estrada do Camboatá, 2300, Guadalupe
- Jardim Botânico: Rua Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico
De 15 à 27 de junho
Entrada franca

Mais informações: Festival Cinesul
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E por falar em Julio Cortázar...
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Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas,
chuva de asas,
e eu sem pão para dar,
tão somente deixo-os vir.
Talvez seja isto uma árvore,
ou quem sabe, o amor.
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

A vida feita de detalhes...

Laocoon Group, Atribuído à Agesander, Athenodoros e Polydorus, século I a.C
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Laocoon Group, Detail
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Laocoon Group, Detail 2
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The Girl with a Pearl Earring, Johannes Vermeer, 1665
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. The Girl with a Pearl Earring, Detail
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La Grande Odalisque, Jean Dominique Ingres, 1814
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La Grande Odalisque, Detail
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Don Manuel Osorio Manrique de Zuniga, Francisco de Goya, 1788
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Don Manuel Osorio Manrique de Zuniga, Detail
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Lamentation for Christ, Albrecht Dürer, 1500-1503
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. Lamentation for Christ, Detail
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The Rape of the Sabine, Giambologna, 1583
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The Rape of the Sabine, Detail
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The Rape of the Sabine, Detail 2
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Primavera, Sandro Botticelli, 1482
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Primavera, Detail
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The Anatomy Lecture of Dr. Nicolaes Tulp, Rembrandt, 1632
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The Anatomy Lecture of Dr. Nicolaes Tulp, Detail
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Theseus and the Centaur, Antonio Canova, 1804-1819
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Theseus and the Centaur, Detail
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Judith Beheading Holfernes, Caravaggio, 1599
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Judith Beheading Holfernes, Detail
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Apollon and the Nymphs, François Girardon, 1666-73
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Apollon and the Nymphs, Detail
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Garden of Earthly Delights, Hieronymus Bosch, 1503-1504
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Garden of Earthly Delights, Detail
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Garden of Earthly Delights, Detail 2
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Sistine Chapel Last Judgment, Michelangelo, 1537-1541
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Sistine Chapel Last Judgment, Detail
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Sistine Chapel Last Judgment, Detail 2
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Hercules and Nessus, Giambologna, 1599
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Hercules and Nessus, Detail
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The Death of Marat, Jacques Louis David, 1793
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The Death of Marat, Detail
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A natureza são duas.
Uma,
Tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou é a ilusão das coisas?
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Drummond.

terça-feira, 8 de junho de 2010

"Comeu e bebeu as palavras..."

Con Corona, © Foto de Flor Garduño, 2000
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Não,
as palavras
não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão, comerei?
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Alejandra Pizarnik.

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domingo, 6 de junho de 2010

Correspondências: Rilke e Lou Salomé

Rainer Maria Rilke, desenho de Leonid Pasternak, 1900
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As flores do campo que trouxe há uma semana de uma manhã maravilhosa há muito estão deitadas entre as grandes folhas de um terno mata-borrão; mas nesta hora em que as contemplo, sorriem-me como uma recordação cheia de graça esforçando-se por parecer alegres como outrora.
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Foi uma dessas horas singulares. Horas que são como o coração de uma ilha cingida por densas florescências: para além destas muralhas primaveris, as ondas respiram quase imperceptivelmente, e não se avista um único barco que venha do passado distante, nem um só que queira continuar para o futuro.
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O fato de se lhe dever seguir um regresso ao quotidiano não pode esbater estas horas insulares. — Elas permanecem à margem de todas as outras horas, como que vividas ao mais alto nível do ser.
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Este tipo de existência insular e mais elevada é a meus olhos o futuro de muito poucos.
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Uma felicidade toca, floresce ao longe,
Alastra em volta da minha solidão
E procura tecer para os meus sonhos
Um enfeite de ouro. E ainda que
A minha pobre vida esteja gelada de madrugada
Inquieta e neve dolorosa,
A hora santa virá para ela,
Um dia, da sagrada Primavera...
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Desejaria estar já em Dorfen. A cidade é tão ruidosa, estranha. E, nos períodos de maturação interior, nada de estranho deve aflorar as nossas margens. Um dia, daqui a muitos anos, compreenderás completamente tudo o que és para mim. O que é a fonte da montanha para quem está sequioso. E se quem está sequioso é um homem íntegro e agradecido, não vai procurar frescura e força à sua claridade para voltar a partir para o novo sol; sob sua proteção e suficientemente perto para ouvir o seu canto, constrói uma cabana e permanece neste vale pacífico até que os olhos estejam cansados do sol e o seu coração transborde de riqueza e de compreensão. Eu construí cabanas e — permaneço.
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Minha límpida fonte! Como te estou agradecido. Não quero mais ver flores, céu, sol — a não ser em ti. Tudo é absolutamente mais belo, mais fabuloso, quando o olhas: a flor nas tuas margens, que — sei isso do tempo em que tinha de ver as coisas sem ti — treme de frio no musgo, solitária e terna, reflete-se clara na tua bondade, vibrante, e quase aflora com a sua pequena cabeça o céu que irradia da tua profundeza. E o raio de sol que chega empoeirado e único aos teus limites transfigura-se e multiplica-se em chuva de centelhas nas ondas luminosas da tua alma.
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Minha límpida fonte. É através de ti que quero ver o mundo, porque, ao mesmo tempo, verei, já não o mundo, mas apenas a ti, a ti, a ti! Tu és o meu dia de festa. Quando em sonhos me junto a ti, tenho sempre flores nos cabelos. Desejaria colocar-te flores nos cabelos. Quais? Nenhuma tem a simplicidade comovente que deveria, nenhuma é suficientemente simples. Em que Maio colhê-las? — Mas creio agora que tens sempre nos cabelos uma grinalda — ou uma coroa... Nunca te vi de outro modo.
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Nunca te vi, que não tivesse o desejo de te rezar. Nunca te ouvi, que não tivesse o desejo de acreditar em ti. Nunca te esperei, sem o desejo de sofrer por ti. Nunca te desejei, sem ter também o direito de me ajoelhar à tua frente. Sou para ti como o bastão para o caminhante, mas sem te apoiara. Sou para ti como o cetro é para o rei, mas sem te enriquecer. Sou para ti como a última pequena estrela é para a noite, ainda que a noite mal a distinguisse e ignorasse a sua cintilação.
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René.
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Rainer Maria, Rilke e Andreas-Salomé, Lou: Correspondência Amorosa, Trad. Manuel Alberto, Relógio D'Água Editores, 1994, Lisboa.
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* Rilke conheceu a escritora e psicanalista russa em 1897. Mantiveram um relacionamento amoroso até 1900. Com o fim da relação, continuaram confidentes e correspondentes até 1926, ano em que Rilke faleceu.
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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Agenda: Rio Folle Journée 2010

Frédéric Chopin, Prelude Op.64 No.2, por Arthur Rubinstein
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O Festival Rio Folle Journée começa hoje e se extende até o dia 06 de junho. No ano passado o grande homenageado foi Mozart. Nessa quarta edição da maratona de música clássica, a programação é dedicada à Chopin.
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Pianistas se revezarão até domingo apresentando toda a sua obra para piano; os noturnos, sonatas, mazurcas e valsas, em ordem cronológica. Também serão apresentadas peças de compositores que foram influenciados pelo romantismo, dentre eles os brasileiros Villa-Lobos, Francisco Mignone, Ernesto Nazareth e Tom Jobim.
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A Orquestra Petrobrás Sinfônica, sob a regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, se apresenta logo mais, no Municipal, ao lado do pianista Nelson Freire. No programa, a Sinfonia No.4 em Ré Menor Op.120, de Schumann e o Concerto No.2 para Piano e Orquestra em Fá Menor Op.21, de Chopin.

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Os concertos serão realizados no Auditório do BNDES, no Teatro João Caetano, na Uni-Rio, no Teatro Municipal e em seu pequeno teatro do prédio anexo. Os dois últimos parecem ter substituído as apresentações mais acessíveis na Sala Cecília Meireles. Toda a programação, preços e endereços estão no site Rio Folle Journée.

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Estações...

Louise Bourgeois, Nanda Lanfranco, 2003
25/12/1911 - 31/05/2010
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Kazuo Ohno, Frank Ward, 1993
27/10/1906 - 01/06/2010.
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A impermanência de pessoas e coisas dita uma desconfortável noção de tempo e finitude. Sentimos transcendentalmente o tempo, quando as pessoas a nossa volta começam a fenecer. Enquanto crianças, todos pareciam estar na primavera de suas vidas. Mas as estações vão passando, às vezes tão mescladas, tão iguais, passam. De repente chega o derradeiro inverno e elas se vão, uma a uma, seguindo uma ordem inexorável. Frágeis dentes-de-leão dissipando no ar.
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