segunda-feira, 26 de abril de 2010

Persona...

The Image Disappears, Salvador Dalí, 1938
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"Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano..."
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Clarice, in: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres.

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Variações sobre um mesmo tema: São Jorge e o Dragão


Jorge de Capadócia, Caetano Veloso
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É bem verdade que São Sebastião é o padroeiro legítimo da cidade do Rio de Janeiro, mas talvez não seja tão festejado e reverenciado quanto São Jorge. Reza a história, que o mártir nasceu durante o século terceiro entre 275 e 285 dC. em Capadócia, região da Anatólia, hoje parte da Turquia.
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Aos 17 anos de idade, alistou-se na cavalaria do exército romano em Nicomédia, durante o reinado do imperador Diocleciano. Este tinha interesse em instaurar o paganismo romano. Para tanto, emitiu um decreto que mandava destruir igrejas e cerceava direitos de quem admitisse ser cristão.
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São Jorge se opôs ao decreto imperial, mantendo-se fiel ao cristianismo e rebelando-se contra os excessos do Imperador. Diocleciano tentou convencê-lo, primeiro com recompensas, que foram recusadas, depois torturando-o de várias formas. Reconhecendo a inutilidade de seus esforços, mandou degolá-lo em 23 de abril de 303 d.C.
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São Jorge foi canonizado em 494 d.C., pelo Papa Gelásio I. É padroeiro da Inglaterra e de várias cidades européias. No Brasil, parte da devoção ao Santo Guerreiro extravasa a liturgia católica e se ramifica dentro da mitologia Yorubá, sob a representação do orixá Ogum.
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A alegoria do dragão dentro das representações pictóricas de São Jorge:
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St. George Praying After Slaying the Dragon, Heinrich Lefler, Data incerta
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St. George On Horseback, Albrecht Dürer, 1505-08
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St.George Killing The Dragon, Jacopo Bellini, Séc. XV

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St. George Killing the Dragon, Eugene Delacroix, Data incerta

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St. George and the Dragon (detail), Vittore Carpaccio, 1516

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St. George Slaying the Dragon, Hans Von Aachen, Data incerta

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St. George and the Dragon, Gustave Moreau, Data incerta

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St. George and the Dragon, Antony Van Dyck, Data incerta
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St. George and the Dragon, Tintoretto, 1555-58
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St. George and the Dragon, Raffaello Sanzio, 1505-06
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St. George on Horseback, Mattia Preti, 1658

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St. George Slays the Dragon, Lucas Cranach (the elder), Data incerta
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St. George Fighting the Dragon, Peter Paul Rubens, 1606-10.
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"...Após tanto saber, que perdão? Suponha agora
Que a história engendra muitos e ardilosos labirintos,
estratégicos
Corredores e saídas, que ela seduz com sussurrantes ambições,
Aliciando-nos com vaidades. Suponha agora
Que ela somente algo nos dá, enquanto estamos distraídos
E, ao fazê-lo, com tal balbúrdia e controvérsia o oferta
Que a oferenda esfaima o esfomeado. E dá tarde demais
Aquilo em que já não confias, se é que nisto ainda confiavas,
Uma recordação apenas, uma paixão revisitada. E dá cedo
demais
A frágeis mãos. O que pensado foi pode ser dispensado
Até que a rejeição faça medrar o medo. Suponha
Que nem medo nem audácia aqui nos salvem. Nosso heroísmo
Apadrinha vícios postiços. Nossos cínicos delitos
Impõem-nos altas virtudes. Estas lágrimas germinam
De uma árvore em que a ira frutifica..."
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T.S. Eliot, in: Gerontion's.
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domingo, 18 de abril de 2010

Correspondências: Clarice Lispector e Fernando Sabino

Fernando (1923-2004) e Clarice (1920-1977)

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Washington, 25 de Setembro de 1954.
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Fernando,
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Estou com a impressão meio inventada de que você ficou zangado quando eu disse pelo telefone que não queria que fosse ao aeroporto. Você ficou de telefonar à 1:30, e não telefonou. Fiquei amolada com a minha falta de cortesia, respondendo à sua gentileza com uma sinceridade ou franqueza que ninguém usa. Você gentilmente mostrou intenção declarada ou vaga de ir ao aeroporto, e eu, que tanto faço questão de não usar a alma na vida diária, pois é até de mau gosto, disse que não. Eu já lhe expliquei o motivo da minha rudeza - o que não a justifica - e explicarei de novo. Para mim, sair do Brasil é uma coisa séria e, por mais 'fina' que eu queira ser, na hora de ir embora choro mesmo. E não gosto que me vejam assim, embora se trate de lágrima bem-comportada, de lágrima de artista de segundo plano, sem permissão do diretor para arrumar os cabelos... Não é por vaidade de rosto que não gosto que me vejam de olhos vermelhos, é por uma vaidade que, por ser menos frívola, é muito mais pecado: é por orgulho ou altivez ou seja lá o que for - enfim, vaidade mais grave. Depois, também, eu me encabulo de estar sempre chegando e indo embora, o que obriga os amigos a um movimento em torno de mim, um movimento que às vezes nem cabe direito na vida deles. Então procuro dispensar a gentileza dos amigos, e facilitar a vida diária de cada um que já é bastante cheia e complicada sem uma ida ao aeroporto. Maury diz que eu costumo ter reações pessoais a coisas chamadas 'de praxe'. Parece que é mesmo verdade. Parece que eu seria capaz de pedir sinceramente a alguém que não apanhasse minha luva caída no chão para não amolar esse alguém, sem entender que incômodo é não apanhá-la, que incômodo é não fazer o que é 'de praxe'. (O exemplo da luva é só para exagerar, até que deixo apanharem minhas luvas, senão perderia todas...) Quanta explicação! E provavelmente você nem ficou zangado com minha descortesia, provavelmente você não telefonou depois porque estava ocupado. É o que espero que tenha acontecido. Esperando também que você não ria das tolas e inúteis complicações de sua amiga.
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* Dias depois, um Fernando amuado pelo tédio responde as inquietudes de Clarice.
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Rio, 19 de Outubro de 1954.
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Clarice,
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Suas 'complicações' não são tolas, mas inúteis. É verdade que você não precisa absolutamente se preocupar, não fui ao aeroporto porque você não queria e então acabou-se, e não telefonei porque na hora deve ter acontecido alguma coisa de que já não me lembro, e depois você já não estava. Mas valeu o desencontro porque forçou uma carta tão boa que parecia uma carta de Mário de Andrade e isso é elogio. Respondo agora me forçando um pouco (são 2 horas da manhã, me prometi não passar de hoje) pois quero ver se venço essa minha inércia mental com relação a cartas. Tanto mais que sinto necessidade real de escrever a você e vou deixando passar, talvez porque inconscientemente julgue que nada de importante tenho a lhe dizer, você sempre mereceria mais do que atualmente sou capaz de dizer numa carta. E sei como são importantes as notícias para quem está no estrangeiro. Infelizmente não tenho nenhuma a dar, senão que tudo vai indo na mesma e se as coisas mudam é porque nada precisamos fazer para que mudem. Nada tenho feito e no entanto várias coisas mudaram. Não me mudei; continuando morando no mesmo lugar, para onde você tem a partir deste momento a obrigação moral de escrever. Preciso do seu estímulo - o de alguém que, não vendo as coisas de perto, tem mais perspectiva. E prometo responder, farto de notícias. Creia-me, esta carta já é uma vitória para quem não sabe mais o que dizer. Só é sincero aquilo que não se diz - e nem isso é meu, li em alguma parte. Como você vê, isso para um escritor é estar no mato sem cachorro. Abrace por mim ao Maury e acredite sempre na amizade do seu,
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Fernando.
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LISPECTOR, Clarice, SABINO, Fernando. Cartas Perto do Coração. Dois jovens escritores unidos ante o mistério da criação. São Paulo. Ed. Record, 2001.
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* Fernando foi apresentado à Clarice em 1946, por Rubem Braga. Desde então, mantiveram uma longa e fiel amizade que durou até 1977, ano em que a escritora faleceu.
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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Aos que buscam reação ao peso de viver: leveza


The Water, Leslie Feist

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Leve é o pássaro:

e a sua sombra voante,
mais leve.
E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.
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Cecília Meireles.
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Agenda: Albert Einstein e Alberto Magnelli

Albert Einstein, © Foto de Arthur Sasse, 1951
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O espírito questionador e curioso fez do físico alemão um dos maiores gênios do século XX.
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Parte de seu universo está ao alcance do público desde o último dia 07, numa exposição internacional concebida pelo American Museum of Natural History de Nova York e trazida ao Brasil pelo Instituto Sangari. Vista por mais de 2 milhões de pessoas, a exposição “Einstein” é dividida em 10 seções: Vida e tempo, Luz, Energia, Tempo, Gravidade, Guerra e Paz, Cidadão Global, Legado, Átomos e Einstein no Brasil. As duas últimas foram inclusas na mostra brasileira.
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Exposição Internacional "Einstein"
Museu Histórico Nacional
Praça Marechal Âncora, Centro
Ter à sex, das 9h às 18h
Sáb, dom e feriados, das 14h às 18h
Ingressos: R$ 20,00 (ter à sáb) / R$ 14,00 (dom)
De 7 de abril à 6 de junho de 2010

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Mais informações: Einstein Brasil
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Explosão Lírica, Alberto Magnelli, 1918
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O Centro Cultural Banco do Brasil expõe até o dia 04 de julho, 68 obras produzidas entre 1913 e 1950, do pintor construtivista Alberto Magnelli.
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Ao longo da carreira, Magnelli realizou suas primeiras pinturas sob a influência dos pintores da renascença italiana, logo evoluiria para o cubismo, o futurismo, até o abstracionismo, estilo que o consagraria.

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Exposição "Alberto Magnelli"
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro
Salas B, C e D - 2º andar
Ter à dom, das 10h às 21h
Entrada Franca
De 06 de abril à 4 de julho

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"A curiosidade é mais importante que o conhecimento."
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Albert Einstein.

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Parábola dos Cegos...

The Parable Of The Blind Leading The Blind, Pieter Bruegel (o velho), 1568
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Virtuosamente espremidos entre o mar e as montanhas estamos à deriva.
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Condição autoinfringida por um instinto que beira a misantropia e anda falando mais alto que o instinto de sobrevivência.
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Se o homem é mesmo um produto do meio em que vive, o que esperar de um mimetismo social fundamentado no consumo desenfreado, individualização e uso indiscriminado dos recursos naturais?
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"Chegará mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueria era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás de seu véu negro. Agora, pelo contrário, ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total, que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas, tornando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis."
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José Saramago, in: Ensaio sobre a Cegueira.

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ontem...

Laura and Brady in the shadow of our house, © foto de Abelardo Morell, 1994
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Dia desses sintonizei a tevê num programa infantil. Pensei: Que nostalgia da minha infância! Havia um total desconhecimento sobre o que é ter problemas, sobre o peso das decisões ou omissões. Não existiam paradigmas ou culpas maiores. Os dias passavam sem pressa cheios de leveza.
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Na volta para casa após a escola, o cheiro de comida fresquinha de mãe dobrava a esquina. As roupas sujas iam pro cesto, antes do banho com bucha. Mamãe então avisava que só depois de comer tudo, tomaríamos o suco e comeríamos a sobremesa. Geralmente uma fruta: goiaba, laranja, morango ou uva, a minha preferida. Depois a mesa dava lugar à lição de casa. Fazia a minha com gosto, enquanto meu irmão oscilava entre bocejos e garranchos. Ambos tinham certa pressa, naquela rotina parcimoniosa, a tarde era a melhor hora. Era quando mamãe deitada conosco e assistíamos desenhos. Eles eram igualmente leves, até bobinhos. Ria-se muito, gargalhava-se de doer a barriga em companhia de Snoopy, Pernalonga, Pepe Lê Gambá, Tom e Jerry, Pica-Pau, Manda-Chuva, Pepe Legal e Babalu... por fim, sempre sucumbíamos ao sono naquelas sestas vespertinas aninhadas em colo materno. Quão boas eram... Nossos sonhos de criança deveriam ganhar moldura, e ficar eternamente vivos, eternamente acessíveis, se não por nostalgia, para nos lembrar daquilo que fomos.
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Seguem alguns dos meus desenhos preferidos. Quem curtiu a infância na década de 80, certamente se recorda de como eram espirituosos. Havia uma inocência e virtuosismo na animação que não existem mais. Destaque para as trilhas sonoras, onde se escuta de Tchaikovsky à Zequinha de Abreu..
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Pica-Pau e Andy Panda no episódio "Musical Miniatures" de 1947
Músicas:
- Polonaise Military, Op.40 No.1 (Chopin)
- Three Écossaises, Op.72 No.3 (Chopin)
- Fantasie Impromptu, Op.66 (Chopin)
- Polonaise Heroic, Op.53 (Chopin)
- Scherzo, Op.31 No.2 (Chopin)

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Hortelino troca-letras, Pernalonga, Gaguinho e o Patinho feio no episódio "A Corny Concerto" de 1943
Músicas:
- Concerto No.1 para piano (Tchaikovsky)
- Tales from The Vienna Woods ( Strauss)
- Danúbio Azul (Strauss)

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Pernalonga no episódio "Long-Haired Hare" de 1948
Música:
- O Barbeiro de Sevilha (Rossini)
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Tom e Jerry no episódio "The Cat Concerto" de 1946

Música:
- Rapsódia Húngara No.2 (Franz Liszt)
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Mickey e Pato Donald no episódio "The Band Concert" de 1935

Música:
- William Tell Overture (Rossini)
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Snoopy no episódio "She’s Good Skate, Charlie Brown" de 1980
Música:
- O Mio Babbino Caro (Puccini)

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Pato Donald e Zé Carioca no episódio "Aquarela do Brasil" de 1943

Músicas:
- Aquarela do Brasil (Ari Barroso)
- Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu)

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Estas verdades não são perfeitas porque são ditas,
E antes de ditas pensadas.
Mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a si próprias.
Na negação oposta de afirmarem qualquer coisa.
A única afirmação é ser.
E ser o oposto é o que não queria de mim.
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Alberto Caeiro, heterônimo do Fernando Pessoa.
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