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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O amor é uma companhia...

Sunflowers (detail), Van Gogh, 1887
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O amor é uma companhia. 
Já não sei andar só pelos caminhos, 
Porque já não posso andar só. 
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa 
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. 
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. 
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. 

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. 
Todo eu sou qualquer força que me abandona. 
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.
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domingo, 8 de janeiro de 2012

"Nuvens me cruzam de arribação. Tenho uma dor de concha extraviada. Uma dor de pedaços que não voltam..."

Christina's World (detail), Andrew Wyeth, 1948
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Christina's World (detail 2), Andrew Wyeth, 1948
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Christina's World (detail 3), Andrew Wyeth, 1948
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Christina's World, Andrew Wyeth, 1948
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"Mas há mais alguma coisa… Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituirem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o elétrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador noturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!"


Bernardo Soares,
heterônimo de Fernando Pessoa, in:
O Livro do Desassossego
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Labyrinth...

 Labyrinth, Salvador Dali, 1941



Compêndio sobre a dor de existir.


"O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança."


"Assim organizar a nossa vida que ela seja para os outros um mistério, que quem melhor nos conheça, apenas nos desconheça de mais perto que os outros. Eu assim talhei a minha vida, quase que sem pensar nisso, mas tanta arte instintiva pus em fazê-lo que para mim próprio me tornei uma não de todo clara e nítida individualidade minha."


"A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande amor nunca o poderia contar. Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é - crede-me bem - para não perturbar as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos e das luzes francas - onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada beleza."


"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio. Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento. Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela, por aquele mesmo extremo de um sentimento, pelo qual o apavorado se não afasta do perigo. Há porcos de destino, como eu, que se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atração da própria impotência. São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão. Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore do usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu não sigo."


"Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa, muitas vezes não é inteiramente má - ,sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são. E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapaz de agir."


"Somos quem não somos, e a vida é pronta e triste. O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e da confidência do abismo. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amámos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso noturno do meu passeio à beira-mar… Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser!"


Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa.
Fragmentos de "O Livro do Desassossego".
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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"Sobrar-me-á sempre de que desejar, como um palco deserto..."

On The Nature of Daylight, Dresden SemperOper Ballett, by David Dawson



(...)
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas.
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Deita-me às mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas
E lírios também...

Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.

Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...


Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"E se soubessem quem é, o que saberiam?"

Self-portrait, One Hand Touching the Face, Oskar Kokoschka, 1918-1919
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"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode
haver tantos!"
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Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.
Trecho do poema "Tabacaria".
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domingo, 27 de março de 2011

Agenda: Fernando Pessoa, Fayga Ostrower, Galeria de Arte Brasileira do Século XIX...

"Fernando Pessoa, Plural como o Universo"
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O Centro Cultural dos Correios traz ao Rio de Janeiro, a obra do maior poeta da língua portuguesa do século XX (com todo respeito a Camões, Drummond, Bandeira...).
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“Fernando Pessoa, Plural como o Universo”, é uma celebração não só da vida e obra do escritor, como também da palavra. Pessoa está em toda parte, “ele mesmo” e seus “eus” em alguns de seus heterônimos mais conhecidos.
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Raridades também fazem parte da exposição, como a primeira edição do livro "Mensagem", único publicado por ele em vida, e que pode ser folheado virtualmente com o auxílio de um e-reader em tamanho família, os dois primeiros exemplares da "Revista Orpheu", edições da "Revista A Águia", onde publicou seus primeiros artigos, entre outras relíquias e publicações dedicadas a obra do escritor em diversos idiomas.
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Fernando Pessoa ocupa lugar privilegiado dentre tantas coisas que me falam ao coração. Se não pelo motivo que o tornou célebre, a literatura, tanto mais pela utilização, pela forma como apodera-se da linguagem e a torna tão íntima e pessoal.
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O apoderar-se aqui se manifesta na existência de tantos “eus”. O que causa assombro de prodigiosidade, o parir-se, o reinventar-se, o multiplicar-se em sujeitos singulares, heterônimos. Fugas?
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E se eu pudesse ser tudo o que quisesse, não por megalomania, mas por instinto de sobrevivência? Parte de mim divida em pequenas chagas e também pequenos antídotos. Poderia experimentar a dor de cada um, como a cura de um mal maior até quando me bastasse, e “o outro”, “o aquele”, absorveria-me, mas nunca ao ponto de ABSOLVER-ME. Não. Nunca. Eu sei.
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Por mais grandiloquente que fosse, no fim só seríamos eu e eu, eu e a melancolia, eu e uma série de espaços vãos e alguns despojos.

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Exposição "Fernando Pessoa, Plural como o Universo"
Centro Cultural dos Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro
Ter à dom, das 12h às 19h
De 25 de Março à 22 de Maio
Entrada Franca

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Descanso do Modelo, Almeida Junior, 1882
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Depois de três anos fechada para reforma do espaço, modernização da expografia e restauração de pinturas, esculturas e mobiliário, o Museu Nacional de Belas Artes expõe ao público a “Galeria de Arte Brasileira do Século XIX”, o maior e mais importante acervo de arte brasileira.
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O espaço com mais de 2 mil m², mostra a evolução da arte produzida no país, esculturas e pinturas que passeiam por vários estilos, desde o romantismo, neoclassicismo, realismo, até os episódios históricos, retratos, natureza-morta, paisagens que caracterizam a arte oitentista. Trabalhos assinados por Almeida Junior, Debret, Nicolas-Antoine Taunay, Victor Meirelles, Rodolfo Amoedo, Pedro Américo, Rodolfo Bernardelli, Castagneto, Facchinetti, Zeferino da Costa, entre dezenas de artistas.
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A Primeira Missa, Victor Meirelles, 1860
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Cristo e a Mulher Adúltera, Rodolfo Bernardelli, 1888
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Más Notícias, Rodolfo Amoedo, 1895
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Exposição "Galeria de Arte Brasileira do Século XIX"Museu Nacional de Belas ArtesAv. Rio Branco, 199, CinelândiaTer à Sex, das 10h às 18h
Sáb, Dom e Feriados, das 12h às 17h

Ingressos: R$ 5,00 (e
ntrada franca aos domingos)
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Princesa Isabel e Conde d'Eu no exílio, © foto de P. Gavelle, 1919
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Algumas fotografias da família imperial brasileira em momentos cotidianos e históricos, como o período no exílio após a Proclamação da República, as comemorações pelo fim da Guerra do Paraguai e a Abolição da Escravatura, fazem parte da exposição “Retratos do Império e do Exílio”. As 150 fotografias expostas fazem parte de um acervo de 781 itens, registros de fotógrafos como Marc Ferrez, Revert Henry, Alberto Henschel, Otto Hess, Luiz Terragno, John Jabez Edwin Mayall e Félix Nadar, entre outros.
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Exposição "Retratos do Império e do Exílio"
Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Ter à Sex, das 13h às 20h

Sáb, Dom e Feriados, das 11h às 20h
De 23 de Fevereiro à 29 de Maio
Entrada Franca

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Johnny Depp, © foto de Robert Wilson, 2006
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O trabalho de vanguarda do dramaturgo Robert Wilson, um dos principais nomes do teatro contemporâneo americano, pode ser visto em exposição no Instituto Moreira Salles até o dia 15 de maio.
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“Vídeo Portraits” são retratos de anônimos e celebridades interpretando personagens num formato que vai além da fotografia, e que liquidifica teatro, cinema, música e literatura. A série completa é composta por 150 retratos exibidos em telas de até 1,5 de altura e que variam de acordo com a cidade em que são expostos. Para a amostra do IMS foram escolhidos 14 videorretratos que mostram desde o artista chinês Zhang Huan à atriz francesa Jeanne Moreau.
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Exposição "Vídeo Portraits, de Robert Wilson"
Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea

Ter à Sex, das 13h às 20h

Sáb, Dom e Feriados, das 11h às 20h

De 16 de fevereiro à 15 de maio
Entrada Franca

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"Ten Chi", Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, © foto de Gert Weigelt, 2004
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Em plena atividade após a perda de sua idealizadora, em 2009, a Companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch apresenta o espetáculo “Ten Chi” no Teatro Municipal, entre os dias 05 e 07 de abril.
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“Ten Chi” que significa “Céu e Terra” foi criado por Pina Bausch em 2004. O espetáculo explora temas da cultura moderna japonesa com extrema delicadeza. Na ocasião, coreógrafa e bailarinos moraram por algumas semanas no Japão registrando aspectos do comportamento, hábitos e sutilezas daquele país.
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Companhia de Dança Tanztheater Wuppertal Pina Bausch - "Ten Chi"
Teatro Municipal 

Praça Marechal Floriano Peixoto, s/nº, Cinelândia
Dias 05, 06 e 07 de Abril às 20h
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Ingressos:
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Frisa e camarote: R$ 200,00 (por assento)
- Plateia e Balcão Nobre: R$ 200,00
- Balcão Superior: R$ 150,00
- Galeria: R$ 80,00

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Maternidade, Fayga Ostrower, 1950
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Fayga Ostrower é uma artista de características plurais, foi pintora, gravadora, desenhista, ilustradora, ceramista, escritora e professora. Nascida na Polônia, em 1920, veio para o Brasil na década de 30, e foi aqui, no Rio de Janeiro, que faleceu em 2001.
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O trabalho de Fayga que transita entre o expressionismo figurativo e o abstracionismo, é revisitado em exposição que reúne 100 itens divididos em três segmentos. O primeiro, mostra trabalhos figurativos, entre eles, as gravuras feitas para o livro “O Cortiço”, de Aluísio de Abreu.
O segundo caracteriza-se pela passagem da figuração para a abstração. E o terceiro segmento, é totalmente abstracionista, onde vê-se uma inserção maior de cores em xilografias e serigrafias, dentre elas, as publicadas em “O Rio”, de João Cabral de Melo Neto.
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Lembrando que todos os itens da mostra pertencem ao Instituto Fayga Ostrower.
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8102, Fayga Ostrower, 1981
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8508 Crepúsculo Dourado, Fayga Ostrower, 1985
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Menino do Morro, Fayga Ostrower, 1947
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Exposição "Fayga Ostrower, Ilustradora"
Instituto Moreira Salles
Rua Marques de São Vicente, 476, Gávea

Ter à Dom, das 13h às 20h

De 26 de março à 15 de maio
Entrada Franca

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"Ser uma coisa é não ser suscetível de interpretação".

Alberto Caeiro.
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domingo, 12 de dezembro de 2010

O Ser e o Devir.

Ensaio "Pele Preta", © foto de Maurren Bisilliat, 1966
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É um mistério o existir, o ser, o haver
Um ser, uma existência, um existir –
Um qualquer que não este por ser este –
Este é o problema que perturba mais.
O que é existir, não nós ou o mundo –
Mas existir em si?
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Fernando Pessoa.
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Entre tudo que há de incerto.

Girl in Black, Egon Schiele, 1911
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"Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer,
nem há desembarque onde se esqueça..."
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Fernando Pessoa.
Trecho de carta escrita em março de 1916.
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sábado, 23 de outubro de 2010

Sobre[viver] enamorado dos seus silêncios...

Danaid, Auguste Rodin, 1889
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"O Fernando Pessoa sente as coisas, mas não se mexe...
[Ele é] um novelo embrulhado para o lado de dentro."
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Álvaro de Campos.
Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro, 1931.
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sábado, 29 de maio de 2010

Pequenas Ilusões...

Mask II, Ron Mueck, 2000
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Seria a diferenciação do real e da
fantasia um teste de lucidez?
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Pregnant Woman, Ron Mueck, 1997
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A Girl, Ron Mueck, 2006
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A Girl, (Detail), Ron Mueck, 2006
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Two Woman, Ron Mueck, 2005
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Wild Man, Ron Mueck, 2005
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Seated Woman, Ron Mueck, 1996
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Spooning Couple, Ron Mueck, 2005
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Boy, Ron Mueck, 1999
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Boy, (Detail), Ron Mueck, 1999
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Big Man, Ron Mueck, 1998
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Big Man, (Detail), Ron Mueck, 1998
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Vive, dizes no presente,
Vive só no presente.
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Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
.O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
.Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
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Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
.Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
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Alberto Caeiro, heterônimo de
Fernando Pessoa.
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domingo, 9 de maio de 2010

Agenda: A Natureza do Olhar, World Press Photo, Mary and Max...

Manhattan, Woody Allen, 1979
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Alguns filmes possuem relação tão estreita com as cidades em que são ambientados, que por vezes o que era mero acidente geográfico, passa a ser coadjuvante dos mais charmosos. A projeção da imagem junto a obra é tão poderosa, que fica impossível imaginá-la tendo outro pano de fundo. Essa percepção é tema da mostra "O Cinema e a Grande Cidade". Na programação, com mais de 40 filmes, algumas obras clássicas, como "La Dolce Vita", do Fellini, "Hiroshima, meu amor", do Alain Renais, "Manhattan", do Woody Allen, "Vertigo", do Hitchcock, "Último Tango em Paris", do Bertolucci, "Metrópolis", do Fritz Lang, "Blow Up", do Michelangelo Antonioni, e "Hable con Ella", do Almodóvar.
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Programação completa no site do IMS.
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Mostra "O Cinema e a Grande Cidade"
Instituto Moreira Salles

Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
De ter à sex, das 13h às 20h; sáb, dom e feriados, das 11h às 20h
De 07 à 27 de maio
Ingresso: R$ 10,00
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World Press Photo, Categoria: Daily Life, © Foto de Gihan Tubbeh, 2009.
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A Caixa Cultural exibe a partir do dia 18, mais uma exposição da "World Press Photo." A organização homônima com sede em Amsterdã, realiza desde 1955 a maior e mais prestigiada premiação de fotografia do mundo. O concurso seleciona imagens individuais ou portfólios, e é dividido em dez categorias temáticas: cobertura de notícia, notícia geral, pessoas na notícia, ação de esporte, matéria de esporte, questões contemporâneas, cotidiano, retratos, natureza, artes e entretenimento. Para a competição desse ano foram selecionadas mais de 100.000 imagens, de 5.847 fotógrafos, provenientes de 128 países.
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Para ver a galeria com todas as fotos de todas as categorias, acesse o link.
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Exposição "World Press Photo"
Espaço Caixa Cultural
Av. Almirante Barroso, 25, Centro
De ter à sábado, das 10h às 22h; dom, das 10h às 21h
De 18 de maio à 27 de junho
Entrada Gratuita
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A Natureza do Olhar, Pessoa por Elisa Lucinda e Geovana Pires
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Há oito anos encenando a peça "Parem de Falar Mal da Rotina", Elisa Lucinda retorna aos palcos cariocas em dueto com a atriz Geovana Pires. "A Natureza do Olhar" mergulha na obra de Fernando Pessoa, inspirada no texto "Notas para a Recordação de meu Mestre Caeiro", inédito no Brasil. As atrizes interpretam diálogos entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
.Fernando Pessoa deu vida a seus alter egos com tamanha riqueza de detalhes, que cada qual possui data de nascimento, profissão, personalidade e estilos literários distintos.

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Peça "A Natureza do Olhar"
Teatro SESI

Av. Graça Aranha, 1, Centro
De sex à dom, às 19:30h
Até 25 de julho
Ingressos: R$ 40,00 (sex e sáb); R$ 30,00 (dom)
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Mary and Max, Adam Elliot, 2009
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Mais uma dica de cinema, não uma mostra como de costume, mas um título apenas. Na verdade, uma animação de massinha em stop-motion. Chama-se "Mary and Max". É um dos filmes mais doces que já assisti. O conceito pode confundir alguns desavisados, mas não se trata de uma animação para crianças, a não ser que os pais queiram explicar temas como solidão, transtornos psiquiátricos, suicídio, obesidade e alcoolismo.
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Mary Daisy Dinkle, uma garotinha australiana de 8 anos, quer saber mais sobre como surgem os bebês. A única teoria, contada pelos pais, é de que "são achados em copos de cerveja". Ela encontra uma lista telefônica de Nova York e escolhe um nome aleatoriamente. Max Jerry Horrovitz, um judeu quarentão, gordo e cheio de fobias, recebe a carta e acaba respondendo-a: "Os bebês da América vem de ovos colocados por rabinos (ou por freiras católicas, ou por prostitutas sujas e solitárias)".
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Ambos passam a trocar cartas compartilhando sua solidão, desajustes, cotidiano e diferenças (Mary enxerga o mundo em tons de marrom e Max em tons acinzentados). Um filme que passeia por temas densos, minimalismo, leveza e sobretudo amizade.
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"O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender..."
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Alberto Caeiro, heterônimo do Pessoa, in: O Guardador de Rebanhos.
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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ontem...

Laura and Brady in the shadow of our house, © foto de Abelardo Morell, 1994
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Dia desses sintonizei a tevê num programa infantil. Pensei: Que nostalgia da minha infância! Havia um total desconhecimento sobre o que é ter problemas, sobre o peso das decisões ou omissões. Não existiam paradigmas ou culpas maiores. Os dias passavam sem pressa cheios de leveza.
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Na volta para casa após a escola, o cheiro de comida fresquinha de mãe dobrava a esquina. As roupas sujas iam pro cesto, antes do banho com bucha. Mamãe então avisava que só depois de comer tudo, tomaríamos o suco e comeríamos a sobremesa. Geralmente uma fruta: goiaba, laranja, morango ou uva, a minha preferida. Depois a mesa dava lugar à lição de casa. Fazia a minha com gosto, enquanto meu irmão oscilava entre bocejos e garranchos. Ambos tinham certa pressa, naquela rotina parcimoniosa, a tarde era a melhor hora. Era quando mamãe deitada conosco e assistíamos desenhos. Eles eram igualmente leves, até bobinhos. Ria-se muito, gargalhava-se de doer a barriga em companhia de Snoopy, Pernalonga, Pepe Lê Gambá, Tom e Jerry, Pica-Pau, Manda-Chuva, Pepe Legal e Babalu... por fim, sempre sucumbíamos ao sono naquelas sestas vespertinas aninhadas em colo materno. Quão boas eram... Nossos sonhos de criança deveriam ganhar moldura, e ficar eternamente vivos, eternamente acessíveis, se não por nostalgia, para nos lembrar daquilo que fomos.
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Seguem alguns dos meus desenhos preferidos. Quem curtiu a infância na década de 80, certamente se recorda de como eram espirituosos. Havia uma inocência e virtuosismo na animação que não existem mais. Destaque para as trilhas sonoras, onde se escuta de Tchaikovsky à Zequinha de Abreu..
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Pica-Pau e Andy Panda no episódio "Musical Miniatures" de 1947
Músicas:
- Polonaise Military, Op.40 No.1 (Chopin)
- Three Écossaises, Op.72 No.3 (Chopin)
- Fantasie Impromptu, Op.66 (Chopin)
- Polonaise Heroic, Op.53 (Chopin)
- Scherzo, Op.31 No.2 (Chopin)

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Hortelino troca-letras, Pernalonga, Gaguinho e o Patinho feio no episódio "A Corny Concerto" de 1943
Músicas:
- Concerto No.1 para piano (Tchaikovsky)
- Tales from The Vienna Woods ( Strauss)
- Danúbio Azul (Strauss)

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Pernalonga no episódio "Long-Haired Hare" de 1948
Música:
- O Barbeiro de Sevilha (Rossini)
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Tom e Jerry no episódio "The Cat Concerto" de 1946

Música:
- Rapsódia Húngara No.2 (Franz Liszt)
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Mickey e Pato Donald no episódio "The Band Concert" de 1935

Música:
- William Tell Overture (Rossini)
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Snoopy no episódio "She’s Good Skate, Charlie Brown" de 1980
Música:
- O Mio Babbino Caro (Puccini)

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Pato Donald e Zé Carioca no episódio "Aquarela do Brasil" de 1943

Músicas:
- Aquarela do Brasil (Ari Barroso)
- Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu)

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Estas verdades não são perfeitas porque são ditas,
E antes de ditas pensadas.
Mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a si próprias.
Na negação oposta de afirmarem qualquer coisa.
A única afirmação é ser.
E ser o oposto é o que não queria de mim.
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Alberto Caeiro, heterônimo do Fernando Pessoa.
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