Self-Portrait With Muse (Dream), Marc Chagall, 1918
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De tanto ser clara e de dar de beber
Como se abre a mão para libertar uma asa
De tanto estar dividida e reunida
Como uma boca que se fecha ou que estremece
Como uma língua de razão que se abandona
Dois braços que se abrem que se fecham
Fazendo o dia fazendo a noite e reacendendo
Uma fogueira sobre mil crianças sem esperança
De tanto encarnar a natureza fiel
Forte como um fruto maduro fraco como uma aurora
Transbordando estações e recobrindo os homens
De tanto ser como um prado que se suga a água
Que dá de beber à sua terra de alta essência
Um inocente à espera de um passo indeciso
Como um trabalho e como um jogo como um cálculo
Falso até as entranhas como um presente e como um rapto
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De tanto ser tão paciente e flexível e correto
De tanto misturar o trigo contido na luz
Às carícias das carnes da terra à meia-noite
Ao meio-dia sem saber se a vida vale a pena
Tu me abriste um dia a mais será que é hoje
Será amanhã Sempre é nulo Nunca não é
E te arriscas a viver à custa de ti mesma.
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Menos do que eu que descendo de outros e de ninguém.
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Paul Éluard.
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Como se abre a mão para libertar uma asa
De tanto estar dividida e reunida
Como uma boca que se fecha ou que estremece
Como uma língua de razão que se abandona
Dois braços que se abrem que se fecham
Fazendo o dia fazendo a noite e reacendendo
Uma fogueira sobre mil crianças sem esperança
De tanto encarnar a natureza fiel
Forte como um fruto maduro fraco como uma aurora
Transbordando estações e recobrindo os homens
De tanto ser como um prado que se suga a água
Que dá de beber à sua terra de alta essência
Um inocente à espera de um passo indeciso
Como um trabalho e como um jogo como um cálculo
Falso até as entranhas como um presente e como um rapto
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De tanto ser tão paciente e flexível e correto
De tanto misturar o trigo contido na luz
Às carícias das carnes da terra à meia-noite
Ao meio-dia sem saber se a vida vale a pena
Tu me abriste um dia a mais será que é hoje
Será amanhã Sempre é nulo Nunca não é
E te arriscas a viver à custa de ti mesma.
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Menos do que eu que descendo de outros e de ninguém.
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Paul Éluard.
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