"Alleine", que significa sozinho em alemão foi, segundo sua mãe, a primeira palavra que Lucian Freud aprendeu a dizer. E parecem ter sido as ruminações de quando se está só, o que fomentou o universo do artista.
A mítica ascendência, cuja insistente referência parecia aborrecer-lhe, coincidentemente ou não, teve reflexo na evidente abordagem psicanalítica em sua pintura.
Se a tinta funcionava como carne, as pessoas retratadas seriam bem mais que representações corpóreas do realismo. "Que os meus retratos sejam as pessoas e não parecidos às pessoas". E o que somos nós além da "materialidade"? Ao retratar o ser humano sem suscetibilidades, concessões ou adereços, os quadros de Lucian Freud simplesmente dizem: ninguém escapa de si mesmo!
Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca.