domingo, 21 de fevereiro de 2010

Variações sobre um mesmo tema: a loucura.


Estamira, direção de Marcos Prado, 2005
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O cineasta Marcos Prado encontrou Estamira pela primeira vez em 2000 quando fotografava o aterro sanitário de Gramacho. A senhora de discurso irascível e filosófico, trabalhava no lixão havia duas décadas. Sua estória pareceu atrativa ao cineasta, que por alguns anos acompanhou a rotina insalubre, a doença, traumas e vicissitudes de sua vida. O documentário evoca a lucidez diante a exclusão e a esquizofrenia.
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Dom Quixote e Sancho Pança, Candido Portinari, 1956
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Miguel de Cervantes tencionava ironizar as novelas de cavalaria e o estilo de vida da fidalguia quando escreveu Dom Quixote de La Mancha. Tendo 126 capítulos, o livro é considerado um dos maiores romances de todos os tempos. Trata-se da estória de Alonso Quijano, um fidalgo decadente obcecado pela leitura de livros de cavaleiros errantes. Ao trocar a realidade pela ficção, Alonso, agora Dom Quixote, se refugia na insanidade e passa a viajar pela Espanha protegendo desafortunados, certo de que é também um nobre cavaleiro. Deixar-se dominar pela fantasia, foi a forma que o "Cavaleiro da Triste Figura" encontrou para dar sentido à sua existência.
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"O mundo da poesia não se limita às obras literárias que Dom Quixote leva na cabeça, mas se dilata até abarcar toda a capacidade humana, comum nos loucos e sensatos, de imaginar, sonhar, mentir, esperar e querer, todos os modos de ilusão e ideal que o homem leva em sua alma e que são o impulso e a razão de sua vontade de fazer e de viver."
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Miguel de Cervantes.

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Self-Portrait With Bandaged Ear, Vincent Van Gogh, 1889
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Vincent Van Gogh tem uma trajetória inquietante. Abandonou os estudos aos 15 anos de idade para trabalhar com o tio numa loja que negociava obras de arte. Com 24 anos, decidiu que sua vocação era a evangelização. Trabalhou como missionário em minas de carvão na Bélgica onde distribuiu seus bens aos pobres. Em 1880, estimulado pelo irmão Théo, dedica-se a vida artística. Deste período até meados de 1890, pinta compulsivamente, sem no entanto obter reconhecimento (vendeu apenas uma tela nos dez anos dedicados à pintura). Enquanto foi sustentado emocional e financeiramente pelo irmão, as crises de instabilidade mental se intensificaram à medida que crescia sua incapacidade de manter-se por seus próprios meios. Também notabilizavam-se os relacionamentos fracassados e a personalidade anti-social. Em 1888 após uma briga com o pintor Paul Gauguim, corta um pedaço da própria orelha. Após o episódio, passa alguns meses numa clínica psiquiátrica. Ao sair, em maio de 1890, vai morar nas proximidades da casa do irmão. Um mês antes de sua morte - quando pintava uma tela por dia - realizou "Campo de Trigo com Corvos", obra prima que exprimia, de forma contundente, toda a tristeza e a solidão de seus últimos momentos. No dia 27 de julho, deu um tiro contra o próprio peito. Dois dias depois, morreu nos braços de Théo.
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Sonhos, Akira Kurosawa, 1990
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"Aquele homem vagabundo assemelha-se a este pássaro vagabundo…
E os homens ficam frequentemente impossibilitados de fazer algo, prisioneiros de não sei que prisão horrível, horrível, muito horrível. Há também, eu sei, a libertação, a libertação tardia. Uma reputação arruinada com ou sem razão, a penúria, a fatalidade das circunstâncias, o infortúnio, fazem prisioneiros. Nem sempre sabemos dizer o que é que nos encerra, o que é que nos cerca, o que é que parece nos enterrar, mas no entanto sentimos não sei que barras, que grades, que muros. Será tudo isto imaginação, fantasia? Não creio; e então nos perguntamos: meu Deus, será por muito tempo, será para sempre, será para a eternidade?"
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Van Gogh, in: Cartas a Théo.
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