quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Tão longe, se perto...

O gurizinho dos olhos negros, peça de Natal da escola, 1983.
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Saudade funciona como despertador. Alerta-nos sobre o perigo do esquecimento, da displicência com nossas memórias. Por tantos motivos que não só o avanço vertiginoso das horas ou o número crescente de informações, exigindo, sugando a nossa atenção, esquecemos. Do perecível, do imperecível, esquecemos. Pelo menos até que sintamos saudade.
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"A natureza da saudade é ambígua: associa sentimentos de solidão e tristeza – mas, iluminada pela memória, ganha contorno e expressão de felicidade. Quando Garrett a definiu como "delicioso pungir de acerbo espinho", estava realizando a fusão desses dois aspectos opostos na fórmula feliz de um verso romântico. Em geral, vê-se na saudade o sentimento de separação e distância daquilo que se ama e não se tem. Mas todos os instantes da nossa vida não vão sendo perda, separação e distância? O nosso presente, logo que alcança o futuro, já o transforma em passado. A vida é constante perder. A vida é, pois, uma constante saudade. Há uma saudade queixosa: a que desejaria reter, fixar, possuir. Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem, como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência da eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor. O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum."
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Cecília Meireles.

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