Southern Gothic, Maggie Taylor, 2001
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Parece que vives sempre
de uma gaiola envolvida,
isenta, numa gaiola,
de uma gaiola vestida,
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de uma gaiola, cortada
em tua exata medida
numa matéria isolante:
gaiola-blusa ou camisa.
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E assim como tu resides
nessa gaiola, cingida,
o vasto espaço que sobra
de tua gaiola-ilha
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é como outra gaiola
igual que o mar: sem medida
e aberto em todos os lados
(menos no que te limita).
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Pois nessa gaiola externa
onde tudo tem cabida,
onde cabe Pernambuco
e o resto da geografia,
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três bilhões de humanidade
e até canaviais de usina
sei que se debate um pássaro
que a acha pequena ainda.
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Tal gaiola para ele
mais do que gaiola é brida;
como cárcere lhe aperta
sua gaiola infinita
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e lhe aperta exatamente
por essa parede mínima
em que sua gaiola-mundo
com a tua faz divisa.
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Contra essa curta parede
entre ti e ele contígua,
que te defende e para ele
é de força, se é camisa,
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todo o dia se debate
a sua força expansiva
(não de pássaro, de enchente,
de enchente do mar de Olinda).
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Por que ele a quem sua gaiola
de outros lados não limita,
deseja invadir o espaço
de nada que tu lhe tiras?
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por que deseja assaltar
precisamente a área estrita
da gaiola em que resides,
melhor: de que estás vestida?
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João Cabral de Melo Neto, in: Mulher Vestida de Gaiola.
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