sexta-feira, 27 de maio de 2011

A beleza no irremediável...

Essai de figure en plein-air: femme à l´ombrelle tournée vers la gauche,
Claude Monet, 1886




Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.


João Cabral de Melo Neto, in: À Carlos Drummond de Andrade.
Poema publicado originalmente no livro "O Engenheiro", de 1945.


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