segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Cariocas não gostam de dias nublados..."

O Inverno, cinza melancólico e belo, © foto de Custódio Coimbra/Agência O Globo
.
.
.
Casacos naftalínicos
Ressacas no Arpoador
Chocolate quente
Chocolate em barra
Chocolate em qualquer forma sólida e líquida
Livros
Rinite Alérgica
Edredon
Fondue
Cinema
Café
Guarda-chuvas de cinco reais
Perder guarda-chuvas de cinco reais
O calor dos abraços
No inverno.
.
.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O tempo devora tudo, inclusive os segundos que perdemos traçando linhas retas.

Study of Hands, Leonardo da Vinci, 1474



"Sem uma palavra a escrever, Martim no entanto não resistiu à tentação de imaginar o que lhe aconteceria se o seu poder fosse mais forte que a prudência. ‘E se de repente eu pudesse?’, indagou-se ele. E então não conseguiu se enganar: o que quer que conseguisse escrever seria apenas por não conseguir escrever ‘a outra coisa’. Mesmo dentro do poder, o que dissesse seria apenas por impossibilidade de transmitir uma outra coisa. A proibição era muito mais funda…, surpreendeu-se Martim.

Como se vê, aquele homem terminara por cair na profundeza que ele sempre sensatamente evitara. E a escolha tornou-se ainda mais funda: ou ficar com a zona sagrada intacta e viver dela – ou traí-la pelo que ele certamente terminaria conseguindo e que seria apenas isso: o alcançável. Como quem não conseguisse beber a água do rio senão enchendo o côncavo das próprias mãos – mas já não seria a silenciosa água do rio, não seria o seu movimento frígido, nem a delicada avidez com que a água tortura pedras... Seria o côncavo das próprias mãos. Preferia então o silêncio intacto. Pois o que se bebe é pouco; e do que se desiste, se vive."

Clarice Lispector, in: A Maçã no Escuro.

domingo, 12 de julho de 2009

"Só porque viver não é relatável..."

"Blanche et muette habillée des pensées que tu me prêtes", Marcel Mariën, 1952
.
.
.

"Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.
Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra…"
.
.
Álvaro de Campos, in: Datilografia.
.
.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Eu que nunca gostei dos ímpares...

 Philippine Bausch, 1940 - 2009
.
.

.
Dois mil e nove poderia terminar amanhã, só a tempo de colocar umas poucas mudas dentro de uma sacola e apoiá-la nas costas. Um ano difícil, certamente.

Se contava ainda com certa complacência, tornou-se mais pesado, sem a leveza dos Cravos de Pina Bausch. Foi dela a primeira apresentação de dança que assisti na vida, 'Ifigênia em Tauris' e os tais 'Cravos', no Municipal. Eu, que assim como dos ímpares, não gostava tanto de dança. Que bom que nada é tão exato, exceto a 'luz' que se apaga um dia.
.
.
.
Coreografia "Cravos", oito mil deles no palco
.
.

.
"Um campo florido guardado por cães pastores simboliza as dualidades humanas: de um lado o desejo, o sonho e a esperança. De outro, a realidade."

Pina Bausch.

.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails