sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Esperando Godot" no escurinho do cinema...

Samuel Beckett, © foto de John Minihan, 1969
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Fim de festa... 2 semanas, 51 filmes, mais de 90 horas de projeções.
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Havia uns bons anos que não conseguia dar vazão ao meu ufanismo cinéfilo e acompanhar tão de perto o Festival de Cinema do Rio, que diga-se de passagem, esteve muito regular. Teve diretores alçados ao posto de gênios (com louvor) por alguns de seus trabalhos e que por isso, não se espera nada menos que o melhor de suas criações. É o caso do Pedro Almodóvar e do Quentin Tarantino. O diretor espanhol abriu mão da sua indefectível marca tragicômica em Abraços Partidos. As auto referências continuam lá, mas com um Almodóvar mais dramático e menos kitsch. Já Tarantino se mantém fiel ao seu estilo verborrágico e sanguinolento, em Bastardos Inglórios. Qual adjetivo melhor para o diretor que retrata um filme com temática de guerra (ocupação nazista!), sem se preocupar com ambientação histórica? Ambos são bons filmes, mas nenhuma obra-prima na filmografia de ambos.


Outro grande nome, Ang Lee, passou com média superior aos seus colegas. Aconteceu em Woodstock é um excelente filme, e consolida sua versatilidade como diretor que passeia por linguagens tão diversas como as de Razão e Sensibilidade, O Tigre e o Dragão, Desejo e Perigo e Brokeback Moutain.

Outros filmes altamente recomendáveis são: O Segredo Dos Seus Olhos, Five Minutes of Heaven, Nova York Eu Te Amo, Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos, Distante Nós Vamos, Teatro de Guerra, Aquário, O Desinformante, The Burning Plain, Tokyo, A Margem do Lixo, The White Ribbon, As Praias de Agnes e (500) Dias Com Ela.

Acredito que boa parte deles entre em circuito nas próximas semanas. Vale conferir! Entretanto, há sempre o que nos desperta maior ou menor entusiasmo. Neste caso, o meu filme "pulga de cadeira" foi Eu, Ela e Minha Alma. Cópia sem vergonha do clássico do Michel Gondry, o adorável Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças.

Já o preferido é brasileiro, fruto de uma adaptação homônima do teatro, A Falta Que Nos Move. A história é simples. Trata-se de um encontro entre cinco amigos numa casa, onde bebem e conversam, enquanto preparam o jantar para uma sexta pessoa que ninguém sabe quem é, e a que horas vai chegar. Até aí nenhum prêmio de roteiro original. O pulo do gato fica no experimentalismo com que a diretora Christianne Jatahy retrata os limites entre a realidade e a ficção. Essa linguagem se traduz nas 13 horas ininterruptas em que o filme foi rodado, na questão dos atores serem também personagens, já que são chamados pelos próprios nomes, e na condução da direção, que se apoiou num roteiro pré-estabelecido, mas foi feita exclusivamente por mensagens de celular durante a filmagem.

O espectador é levado a refletir sobre o que é real ou encenação, em que momento os atores estão sendo eles mesmos, afinal seria possível viver um personagem ao longo de treze horas? Durante o período (que às vezes soa bem atemporal) em que eles aprontam o tal jantar, vêm à tona dores humanas, carência, amor, cumplicidade, rupturas, ausências... é quando num dado momento, percebemos que o convidado nunca vai chegar.

Imperdível filme, do tipo que instiga pela metalinguagem, e faz pensar que quando somos confrontados com a ausência de algo, cada qual reage de uma forma. Uns valorizam, outros tornam-se melancólicos ou amargos, encontram substitutivos, resignam-se ou mudam o estado das coisas... o fato é que sempre vai existir uma falta que nos move, o que diverge, é para onde.


Lembrando que tem repescagem de alguns filmes do festival a partir dessa sexta-feira até o dia 15 de outubro, somente no Espaço de Cinema 1, 2 e 3.
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Informações sobre os filmes e horários do repeteco no site do festival.
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Para quem perdeu, eis uma boa oportunidade. Para mim, já deu. Até o ano que vem!
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"Toda filosofia esconde também uma filosofia. Toda opinião é também um esconderijo, toda palavra também uma máscara."
Nietzsche.
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