Partita No.1 in Si Bemol Maior, BWV 825, Johann Sebastian Bach
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A chave da música de Bach: o desejo de evadir-se do tempo. A humanidade não conheceu outro gênio que tenha apresentado com maior pathos o drama da queda do tempo e a nostalgia do paraíso perdido. As evoluções de sua música dão uma grandiosa sensação de ascensão em espiral até os céus. Com Bach nos sentimos nas portas do paraíso; nunca nele. A pressão do tempo e o sofrimento do homem caído no tempo amplificam a saudade de mundos puros, mas não nos transportam para eles. O pesar pelo paraíso é tão essencial nesta música que nos perguntamos se Bach teve alguma vez lembranças que não fossem as do paraíso. Um imenso e irresistível apelo ressoa profeticamente nela e qual é o sentido desse apelo senão tirar-nos deste mundo? [...] Quem, no êxtase desta música, não tenha sentido o transitório de sua condição natural e não tenha vivido a série de mundos possíveis que se interpõem entre o paraíso e nós não entenderá por que suas tonalidades estão constituídas por beijos de anjos.
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Emil Cioran, in: O Livro das Ilusões.
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