sábado, 27 de outubro de 2012

"Ninguém perde (repetes em vão) senão quem não tem e que não teve nunca..."

 Acrobat with bouquet, Marc Chagall, 1963

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Já não é mágico o mundo. Te deixaram.    
Já não partilharás a clara lua                      
nem os lentos jardins. Já não há uma        
lua que não seja espelho do passado,       
cristal de solidão, sol de agonias.              
Adeus às mútuas mãos e as têmporas       
que aproximavam no amor. Hoje só tens    
a fiel memória e os desertos dias.             
Ninguém perde (repetes em vão)              
senão quem não tem e que não teve        
nunca, mas não basta ser valente              
para aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, te desgarra           
e te pode matar uma guitarra.                    
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II
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Já não serei feliz. Talvez não importe.       
Há tantas outras coisas no mundo;            
Um instante qualquer é mais profundo       
e diverso que o mar. A vida é curta              
e ainda que as horas sejam tão longas, uma
escura maravilha nos ronda,                        
a morte, esse outro mar, essa outra flecha  
que nos livra do sol e da lua                          
e do amor. A sorte que me deste                  
e me tiras-te deve ser apagada;                   
o que era tudo tem que ser nada                  
Só me resta o gozo de estar triste               
esse inútil costume que me inclina              
ao sul, a certa porta, a certa esquina.
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Jorge Luis Borges.
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