sexta-feira, 30 de julho de 2010

As angústias de ser...

Difesa Della Luce, © Roberto Kusterle, 2002

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Crispei minhas unhas na parede: eu sentia agora o nojento na minha boca, e então comecei a cuspir, a cuspir furiosamente aquele gosto de coisa alguma, gosto de um nada que no entanto me parecia quase adocicado como o de certas pétalas de flor, gosto de mim mesma - eu cuspia a mim mesma, sem chegar jamais ao ponto de sentir que enfim tivesse cuspido minha alma toda [...]


Só parei na minha fúria quando compreendi com surpresa que estava desfazendo tudo o que laboriosamente havia feito quando compreendi que estava me renegando. E que, ai de mim, eu não estava à altura senão de minha própria vida.

Parei espantada, e meus olhos se encheram de lágrimas que só ardiam e não corriam. Acho que eu não me julgava sequer digna de que lágrimas corressem, faltava-me a primeira piedade por mim, a que permite chorar, e nas pupilas eu retinha em ardor as lágrimas que me salgavam e que eu não merecia que escorressem.

Mas, mesmo não escorrendo, as lágrimas de tal modo me serviam de companheiras e de tal modo me banhavam de comiseração, que fui abaixando uma cabeça consolada. E, como quem volta de uma viagem, voltei a me sentar quieta na cama.

Eu que pensara que a maior prova de transmutação de mim em mim mesma seria botar na boca a massa branca da barata. E que assim me aproximaria do...divino? Do que é real? O divino para mim é o real [...]


Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era [...]


Eu estava agora tão maior que já não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. Mas perceptível nas minhas mais últimas montanhas e nos meus mais remotos rios: a atualidade simultânea não me assustava mais, e na mais última extremidade de mim eu podia enfim sorrir sem nem ao menos sorrir. Enfim eu me estendia para além de minha sensibilidade.


Clarice Lispector, in: A Paixão Segundo G.H.



eu humanizo
tu humanizas
ele humaniza
nós humanizamos
vós humanizais
eles humanizam

uma epifania

no presente do indicativo.

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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Música para curar a alma: Gustav Mahler

1ª parte
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2ª parte
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Gustav Mahler, Sinfonia No.5, Mvt.4, Adagietto
Filarmônica de Viena, com a condução do maestro Leonard Bernstein.

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sábado, 24 de julho de 2010

Agenda: Yasujiro Ozu, German Lorca, Cia Deborah Colker...

Yasujiro Ozu, o mais japonês dos diretores
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Os fãs de cinema têm tido gratas surpresas nos últimos meses. Depois de mostras cinematográficas com a trajetória de diretores como Akira Kurosawa, Woody Allen e Jean Luc Godard, o Centro Cultural Banco do Brasil apresenta a retrospectiva completa e inédita na América Latina, do cineasta japonês Yasujiro Ozu.
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Dono de um estilo perfeccionista, Ozu conseguiu imprimir uma simplicidade estética aliada à delicadeza e ao minimalismo que tanto representa a cultura japonesa. Uma cultura que está indissociavelmente ligada à família, e que através de seu olhar, apontava para as tensões entre a tradição e a modernidade, bem como questões existenciais tão comuns como vida e morte, juventude e velhice.
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Ainda dentro da retrospectiva, serão exibidas quatro produções em homenagem ao cineasta: "Tokyo-Ga," de Wim Wenders; "Cinco Dedicados a Ozu", de Abbas Kiarostami; "Hanami - Cerejeiras em Flor", de Doris Dörrie e o maravilhoso "35 Doses de Rum", de Claire Denis. Já entre os destaques da filmografia do diretor, vale mencionar as obras primas que são "Era uma vez em Tóquio", "Ervas Flutuantes", "A Rotina tem seu encanto", "Pai e Filha" e "Meninos de Tóquio".
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Programação completa, sinopses e horários no site do CCBB.
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Banshun (Pai e Filha), filme de 1949
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Mostra "Emoção e Poesia: o cinema de Yasujiro Ozu"
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro

Ter à dom, ver os horários na programação
De 27 de julho à 22 de agosto de 2010
Ingressos: R$ 6,00
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.4 por 4, © foto de Flávio Colker
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A Companhia de Dança Deborah Colker reestréia o espetáculo “4 por 4” em temporada popular no Teatro João Caetano. O vigor performático que caracteriza a companhia, se funde à delicadeza das artes plásticas em quatro atos, onde as referências perpassam os trabalhos de Cildo Meireles, Victor Arruda, Chelpa Ferro e Gringo Cárdia.
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Espetáculo de dança "4 por 4"
Teatro João CaetanoPraça Tiradentes, s/nº, Centro

Qui, sex e sáb, às 21h e dom, às 18h
De 24 de julho à 05 de setembro de 2010
Ingressos: R$ 20,00 (platéia e balcão nobre) e R$ 15,00 (balcão simples)
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.A Loba de Ray-Ban, © foto de Luis Tripolli
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Vinte e dois anos depois da primeira versão, José Possi Neto dirige a releitura da peça “O Lobo de Ray-Ban”. O lobo, antes interpretado pelo ator Raul Cortez, agora é uma loba, Christiane Torloni. A peça mostra um grupo de atores durante o exercício de atuação, que se interrompe em alguns momentos para dar lugar à reflexões e dilemas reais..
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Peça "A Loba de Ray-Ban"
Teatro Carlos GomesPraça Tiradentes, s/nº, Centro
Sex e sáb, às 20h; Dom, às 18h
De 23 de julho à 12 de setembro de 2010
Ingressos: R$ 30,00
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.© German Lorca, São Paulo, 1952
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O trabalho de German Lorca, considerado um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, é revisitado em exposição no Espaço Caixa Cultural. Ao longo de 60 anos, Lorca utilizou a imagem como ferramenta de acesso ao imaginário, no que chamam de fotografia de pensamento. Um estilo que flerta com o surrealismo e o concretismo, e que na década de 50 rompeu com a fotografia documental usual àquela época.
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Mostra fotográfica "German Lorca: Olhar Imaginário"
Espaço Caixa Cultural
Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô: Estação Carioca)
Ter à sáb, das 10h às 22h e dom, das 10h às 21h
De 20 de julho a 29 de agosto 2010
Entrada Franca
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Fastio...

La Notte, Tomba di Giuliano de' Medici, Michelangelo, 1524-1534
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Ando economizando palavra
acento, pontuação
Lendo um livro a cada quatro
ou cinco dias
sem borrar uma página
sem desembarcar em sonho
em terra nenhuma
Economizando a fastidiosa
falta de sentido.


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domingo, 11 de julho de 2010

Agenda: Recitais no CCBB e Exposições no MNBA

Festa na Póvoa, Sergio Telles, 1994
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O Museu Nacional de Belas Artes apresenta a exposição "Caminhos da Cor, Sergio Telles". Estão expostos 53 óleos sobre tela, 37 aquarelas sobre papel, 14 desenhos, além de um álbum de gravuras. Por conta da carreira diplomática, Sergio Telles foi retratando os lugares por onde passou, Paris, Bélgica, Itália, Portugal, Holanda, Espanha, Argentina, Uruguai... e o Brasil de um extremo ao outro. Nas telas de estilo figurativo, os temas alternam-se entre paisagens, naturezas mortas e cenas do cotidiano.
.Ainda no MNBA, é possível conferir a exposição de outro importante pintor brasileiro, "Paiva Brasil: Jogos de Arte", comemora 80 anos de vida do artista carioca.
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Exposição "Caminhos da Cor, Sergio Telles"
Museu Nacional de Belas Artes
Avenida Rio Branco, 199, Cinelândia
De ter à sex, das 10h às 18h
Sáb, dom e feriados, das 12h às 17h

Ingresso: R$5,00 (Entrada franca aos domingos)
De 09 de julho à 07 de setembro

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Exposição "Paiva Brasil: Jogos da Arte"
Museu Nacional de Belas Artes
De 9 de julho à 30 de agosto
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Franz Liszt, Liebestraum No.3 por Evgeny Kissin.
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O piano revolucionou a música erudita do século XVIII e consagrou nomes como Chopin, Debussy, Beethoven e Liszt. Parte dessa trajetória de 300 anos de história do instrumento são revisitadas na série "De Ludovico Giustini a Philip Glass - Três Séculos de Piano".
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No repertório, sonatas de Mozart, Lodovico Giustini, Beethoven e Debussy, além de composições de Haydn, Schubert, Schumann, Philip Glass, Chopin, entre outros.
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Programação:.
Dia 13 de julho: "O Novo Instrumento Que Tocava Piano e Forte", apresentação de Edmundo Hora
Dia 10 de agosto: "Viena, a Eterna", apresentação do Duo Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini
Dia 31 de agosto: "Allegro Appassionato", apresentação de Thomas Mastroianni
Dia 14 de setembro: "Allegro Fantástico", apresentação de Fernando Corvisier
Dia 09 de novembro: "Rapsodia Húngara", apresentação de William Wellborn
Dia 23 de novembro: "Noturno", apresentação de Giulio Draghi e Flavio Augusto
Dia 07 de dezembro: "Piano Sem Martelos", apresentação de Eduardo Monteiro e Hugo Pilger
Dia 21 de dezembro: "Novos Caminhos", apresentação de Daniel Glover

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Série "De Ludovico Giustini a Philip Glass - Três Séculos de Piano"
Centro Cultural banco do Brasil (Teatro II)

Rua 1º de Março, 66, Centro
Às terças-feiras sempre às 12h30 e 19h
De 13 de julho à 21 de dezembro
Ingresso: R$ 6,00
Maiores informações no site do CCBB.

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Mil Fridas...

Concluindo "La mesa Herida", © Foto de Bernard Silberstein, 1940
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Frida Kahlo faria 103 anos hoje. Coincidência ou não, chegaram às livrarias brasileiras dois livros essenciais para os admiradores da pintora mexicana.
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Frida Kahlo: suas fotos, Ed. Cosac Naify, 524 páginas
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"Frida Kahlo, suas fotos" traz 410 imagens que pertenciam ao acervo pessoal de Frida, e só foram descobertas em 2007. Dividido em sete temas que abrangem passagens significativas, como suas origens, o período em que viveu na casa azul, o acidente que sofreu, os amores e seu engajamento político, o livro tem organização e introdução do fotógrafo Pablo Ortiz Monasterio.
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Diego e Frida, J.M.G. Le Clézio, Ed. Record, 240 páginas
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Em sua biografia, o escritor Jean-Marie Gustave Le Clézio esmiuça a união improvável dos dois pintores e traça paralelos entre suas afinidades artísticas, as personalidades e os ideais revolucionários do marxismo.
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"A arte nunca substituiu para Frida, a realidade da maternidade, mas permitiu que suportasse essa contradição, essa maldição, que a expusesse como uma realidade exterior para não guardá-la como um mal que corrói por dentro. A arte, para Frida, é uma outra maneira de animalidade, uma pulsão natural, irrefletida - é por isso que os surrealistas se entusiasmaram com sua pintura -, uma necessidade absoluta que a vincula a um mundo do qual o destino a excluiu peremptoriamente. A arte, a infância, a beleza, a violência, o amor, estão estreita e indissoluvelmente misturados..."

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J. M. G. Le Clézio, in: Diego e Frida.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Passantes...

A Pair of Shoes, Van Gogh, 1886
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Tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados
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tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido
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e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado.

Alice Ruiz.


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Perdas e ganhos...

Black Square, Kazimir Malévich, 1913
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Apesar de todas as variantes e possibilidades,
um quadrado negro sobre um fundo branco

é só um quadrado negro sobre um fundo branco.
Em geral as coisas são muito simples
um dia se ganha, outro se perde.
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quinta-feira, 1 de julho de 2010

O pensamento materializado: mestres da fotografia (4)

© Julia Margaret Cameron. Beatrice, 1866
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© Alfred Eisenstaedt. Children at a Puppet Theater, 1963 .
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© Imogen Cunningham. My Mother Peeling Apples, 1910
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© Steve Schapiro. Samuel Beckett, 1964
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© Berenice Abbott. Nightview, 1932
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© Gisèle Freund. Frida Kahlo, 1951
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© Gordon Parks. Muhammad Ali, 1970
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© Nick Brandt. Cheetah and Cubs Lying on Rock, 2007
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© Carl Mydans. Boy Sitting on a Bed, 1937
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© Abelardo Morell. Spilled Water,1994
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© Barbara Morgan. Martha Graham, Letter to the World, 1940
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© Édouard Boubat. The Sunflowers, 1987
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© Robert Doisneau. Kiss, 1950
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© Gjon Mili. Picasso, Drawing With Light, 1949
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.* Mais informações sobre os fotógrafos, na sessão de link's Autofocus.
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