sábado, 27 de novembro de 2010

"como é que consegue, todos os dias e todas as horas, ser tão exatamente a mesma?"

The Hours, Philip Glass, por Branka Parlic
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Ela espia o relógio sobre a mesa. Passaram-se quase duas horas. Ainda se sente vigorosa, embora saiba que no dia seguinte talvez olhe para o que escreveu e ache tudo aéreo. Descomedido. É sempre melhor o livro que se tem na cabeça do que aquele que se consegue pôr no papel. Toma um gole do café frio e se permite ler o que escreveu até o momento.
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Parece bom o bastante; certos trechos parecem bem bons. Ela nutre esperanças fartas, é claro – quer que esse seja seu melhor livro, aquele que finalmente fará jus a suas expectativas. Mas será que um único dia na vida de uma mulher comum pode conter o suficiente para um romance?
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Virgínia larga a caneta. Gostaria de escrever o dia todo, de encher trinta páginas, em vez de três, mas, após as primeiras horas, alguma coisa lá dentro falha e ela receia, caso ultrapasse os limites, prejudicar toda a empreitada. Receia se perder num reino de incoerências, do qual talvez nunca mais retorne.
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Michael Cunningham, in: As Horas.
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