On the Horizon the Angel of Certainty, and in the Dark Sky, an Interrogating Look, Odilon Redon, 1882.
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No caminho dos cães minha alma encontrou
meu coração. Destroçado, mas vivo,
sujo, malvestido e cheio de amor.
No caminho dos cães, lá onde ninguém quer ir.
Um caminho que só percorrem os poetas
quando não lhes resta nada a fazer.
Mas eu ainda tinha tantas coisas por fazer!
e no entanto ali estava: me fazendo matar
pelas formigas vermelhas e também
pelas formigas negras, percorrendo as aldeias
vazias: o espanto que se elevava
até tocar as estrelas.
Um chileno educado no México pode suportar tudo,
pensava, mas não era verdade.
Às noites meu coração chorava. O rio do ser, diziam
uns lábios febris que logo descobri eram os meus,
o rio do ser, o rio do ser, o êxtase
que se curva na ribeira dessas aldeias abandonadas.
Sumulistas e teólogos, adivinhos
e assaltantes de estrada emergiram
como realidade aquáticas no meio de uma realidade
metálica.
Só a febre e a poesia provocam visões.
Só o amor e a memória.
Não estes caminhos nem estas planuras.
Não estes labirintos.
Até que por fim minha alma encontrou meu coração.
Estava doente, sim, mas estava vivo.
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Roberto Bolaño.