The Melancholic Temperament, Virgil Solis, 1530-1562
. . . Minha alma teve um árduo, longo dia e está cansada e procura para si o esquecimento. Ai! que no mundo não há lugar para uma alma encontrar o seu esquecimento, o escuro perfeito de sua paz, pois o homem matou o silêncio da terra e violentou cada lugar de esquecimento e paz, onde os anjos costumavam pousar. . D. H. Lawrence. .
. . . «Quando me dizes "Vem!" já eu parti e já estou tão próximo de ti que sou eu quem me chama e quem te chama e é o meu amor que em ti me ama. Se me olhas sou eu que me contemplo longamente através do teu olhar e moro em ti e sou eu o lugar e demoro-me em ti e sou o tempo. Eu sou talvez aquilo que me falta (a alma se sou corpo, o corpo se sou alma) em ti, e afogo-me na tua vida como na minha imagem desmedida: Sol, Lua, água, ouro, horizontalidade, concordância, indiferente ordem da infância, união conjugal, morte, repouso.» . Manuel António Pina. .
Les Jardins du Champs de Mars, Robert Doisneau, 1944
. . Recomeçar é verbo que conjugo cada dia que morre e já não volta, enquanto, neste mundo, houver crepúsculo, e após a alva noite, estrela d'alva. Recomeçar criança o velho jogo de sombra e sol, na zona de luz negra, onde rasuro versos, reescrevo muito depressa com mindinha letra. Recomeçar a obra grande que liberta ao fim de muitas noites de relento, enquanto, neste mundo, houver um só poeta e, dentro do poema, nenhum teto. Recomeçar até não haver mais início, onde ir buscar pontos finais. António Barahona. .