sábado, 30 de março de 2013

Música para curar a alma: Wolfgang Amadeus Mozart

Concerto for Flute, Harp and Orchestra, in C Major, K.299.
Naoko Yoshino (harpa), Samuel Coles (flauta) e Orquestra de Câmara Inglesa, com a condução de Yehudi Menuhin.
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domingo, 24 de março de 2013

"pode ser que em prosa ela floresça ainda, sob tanta metáfora..."

Choosing, George Frederic Watts, 1864
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Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
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que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
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como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
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Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
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Manuel António Pina. 
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quarta-feira, 20 de março de 2013

"submergir em sua existência, que por não ser nossa é por isso mesmo mais leve..."

California Kiss, Elliott Erwitt, 1955
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"Quando alguém está enamorado ou, mais precisamente, quando uma mulher está e além disso é no começo e o enamoramento ainda possui o atrativo da revelação, em geral somos capazes de nos interessar por qualquer assunto que interesse ou do qual nos  fale quem amamos. Não só de fingir interesse para agradá-lo ou para conquistá-lo ou para marcar nossa frágil posição, mas também para prestar verdadeira atenção e nos deixar contagiar de verdade pelo que quer que ele sinta e transmita, entusiasmo, aversão, simpatia, temor, preocupação ou até obsessão (...). De repente  nos apaixonam coisas a que jamais havíamos dedicado um pensamento, pegamos insuspeitas manias, prestamos atenção em detalhes que tinham nos passado despercebidos e que nossa percepção teria continuado omitindo até o fim dos nossos dias, centramos nossas energias em questões que só nos afetam vicariamente ou por feitiço ou por contaminação, como se decidíssemos viver numa tela ou num cenário ou no interior de um romance, num mundo alheio de ficção que nos absorve e distrai mais do que nosso mundo real, o qual deixamos temporariamente suspenso ou em segundo lugar, e de passagem descansamos dele (nada tão tentador como se entregar a outro, mesmo que só com a imaginação, e fazer nossos seus problemas e submergir em sua existência, que por não ser nossa é por isso mesmo mais leve). Talvez seja excessivo expressar a coisa assim, mas nós nos colocamos inicialmente a serviço de quem cismamos querer, ou pelo menos à sua disposição, e a maioria de nós faz isso sem malícia, isto é, ignorando que chegará um dia, se nos fortalecermos e nos sentirmos firmes, em que ele olhará desiludido e perplexo para nós ao verificar que na realidade não damos importância ao que antes nos suscitava emoção, que nos aborrece o que está nos contando, sem que ele tenha variado de temas nem que estes tenham perdido interesse. Será só que deixamos de nos esforçar em nosso entusiasmado amor inaugural, não que fingíssemos e fôssemos falsas desde o primeiro instante. Com Leopoldo nunca ouve um ápice desse esforço, porque tampouco houve um desse voluntarioso e ingênuo e incondicional amor (...)"
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Javier Marías, in: Enamoramentos.
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domingo, 17 de março de 2013

Retrato do artista enquanto sujeito: Simone Weil

Simone Adolphine Weil, filósofa e escritora francesa (1909-1943)
Imagem extraída do documentário "An Encounter With Simone Weil", dir. Julia Haslett
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"le seul organe de contacte avec l'existence est l'acceptation, l'amour..."
S.W.
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sábado, 2 de março de 2013

A sagração da primavera...

Le Sacre Du Printemps, Pina Bausch, © Maarten Vanden Abeele
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"Eu me banho, nutro-me da vida melhor e mais fina, pois nada é bom demais para me preparar para o instante dessa nova estação. Quero os melhores óleos e perfumes, quero a vida da melhor espécie, quero as esperas as mais delicadas (...) quero a quebra de minha carne em espírito e do espírito se quebrando em carne (...) tudo o que secretamente me adestrará para aqueles primeiros momentos que virão. Iniciada, pressinto a mudança de estação. E desejo a vida mais cheia de um fruto enorme. Dentro desse fruto que em mim se prepara (...) há lugar para a mais leve das insônias que é a minha sabedoria de bicho acordado: um véu de alerteza, esperta apenas o bastante para apenas pressentir. Que eu não esqueça, nessa minha fina luta travada, que o mais difícil de se entender é a alegria. Que eu não esqueça que a subida mais escarpada, e mais à mercê dos ventos, é sorrir de alegria." 
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Clarice Lispector, in: A Descoberta do Mundo.
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