quinta-feira, 22 de novembro de 2012

"Os rios de um dia."

 Sertão Sem Fim, Araquém Alcântara, 2008
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Os rios, de tudo o que existe vivo,
vivem a vida mais definida e clara;
para os rios, viver vale se definir
e definir viver com a língua da água.
O rio corre; e assim viver para o rio
vale não só ser corrido pelo tempo:
o rio o corre; e pois que com sua água,
viver vale suicidar-se, todo o tempo.
   
Pois isso, que ele define com clareza,
o rio aceita e professa, friamente,
e se procuram lhe atar a hemorragia,
ou a vida suicídio, o rio se defende.
O que um rio do Sertão, rio interino,
prova com sua água, curta nas medidas:
ao se correr torrencial, de uma vez,
sobre leitos de hotel, de um só dia;
ao se correr torrencial, de uma vez,
sem alongar seu morrer, pouco a pouco,
sem alongá-lo, em suicídio permanente
ou no que todos, os rios duradouros;
esses rios do Sertão falam tão claro
que induz ao suicídio a pressa deles:
para fugir na morte da vida em poças
que pega quem devagar por tanta sede.
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João Cabral de Melo Neto.
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terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Serão esses caminhos somente des-caminhos, des-caminhos de ti a ti?"

 "Corriendo por la Playa", Joaquín Sorolla y Bastida, 1908
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"...Quando então se pensa em poemas, tomam-se tais caminhos com poemas? Serão esses caminhos somente des-caminhos, des-caminhos de ti a ti? Mas ao mesmo tempo são também, em tantos outros caminhos, caminhos nos quais a língua se torna sonora, são encontros, encontros de uma voz com um Tu perceptível, caminhos de criaturas, esboços de existência talvez, um antecipar-se para si mesmo, à procura de si mesmo... Uma espécie de volta à casa..."
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Paul Celan.
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sábado, 3 de novembro de 2012

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