segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Dia D.


"No Meio do Caminho", belo em qualquer idioma
.
.
.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
.
.

Carlos Drummond de Andrade.
.
.

domingo, 30 de outubro de 2011

"Enquanto se espera que o coração entenda..."

Girl with Roses, Lucian Freud, 1947-1948
.
.
.
"O que é angústia?
.
Um rapaz fez-me essa pergunta difícil de ser respondida. Pois depende do angustiado. Para alguns incautos, inclusive, é palavra que se orgulham de pronunciar como se com ela subissem de categoria – o que também é uma forma de angústia.
.
Angústia pode ser não ter esperança na esperança. Ou conformar-se sem se resignar. Ou não se confessar nem a si próprio. Ou não ser o que realmente se é, e nunca se é. Angústia pode ser o desamparo de estar vivo. Pode ser também não ter coragem de ter angústia – e a fuga é outra angústia. Mas angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.
.
Esse mesmo rapaz perguntou-me: você não acha que há um vazio sinistro em tudo? Há sim. Enquanto se espera que o coração entenda..."
.
.
Clarice Lispector, in: A Descoberta do Mundo.
.
.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Id...

 Le Double Secret, René Magritte, 1927
.
.
"Posso fingir de muitos, mas não posso fugir de mim."
.
.
Manoel de Barros, in: "Álbum de Família",
Ensaios Fotográficos.
.

sábado, 22 de outubro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Procura-se...

 East Side Interior, Edward Hopper, 1922
.
. 
.
O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo. É outra coisa.

Se me perguntam que coisa é essa, não respondo, porque não é da conta de ninguém o que estou procurando.

.
Mesmo que quisesse responder, eu não podia. Não sei o que procuro. Deve ser por isso mesmo que procuro.

.

Me chamam de bobo porque vivo olhando aqui e ali, nos ninhos, nos caramujos, nas panelas, nas folhas de bananeiras, nas gretas do muro, nos espaços vazios.

.
Até agora não encontrei nada. Ou encontrei coisas que não eram a coisa procurada sem saber, e desejada.

.

Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito, porque não sinto o prazer dos outros na água do açude, na comida, na manja, e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda.

.

Ele tem experiência de mato e de cidade, sabe explorar os mundos, as horas. Eu tropeço no possível, e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.

.

Um dia descubro. Vai ser fácil, existente, de pegar na mão e sentir. Não sei o que é. Não imagino forma, cor, tamanho. Nesse dia vou rir de todos.

.

Ou não. A coisa que me espera, não poderei mostrar a ninguém. Há de ser invisível para todo mundo, menos para mim, que de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e direito de esconder.
.
Carlos Drummond de Andrade.
.
.

domingo, 16 de outubro de 2011

As palavras e as coisas...

Girl Before a Mirror, Pablo Picasso, 1932
.
.
.
"As palavras agrupam sílabas e as sílabas, letras, porque há, depositadas nestas, virtudes que as aproximam e as desassociam, exatamente como no mundo as marcas se opõem ou se atraem umas às outras..."
.
Michel Foucault, in: As Palavras e as Coisas,
uma Arqueologia das Ciências Humanas.


.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Felicidade: substantivo comum, feminino, singular, polissilábico..."

.
..
"... O tempo é escasso - mãos à obra.
Primeiro é preciso transformar a vida,

para cantá-la - em seguida.

Os tempos estão duros para o artista:

Mas, dizei-me, anêmicos e anões,
os grandes, onde, em que ocasião,

escolheram uma estrada batida?

General da força humana - Verbo - marche!
Que o tempo cuspa balas para trás,

e o vento no passado só desfaça um maço de cabelos.

Para o júbilo o planeta está imaturo.

É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício."
.
.

Vladimir Mayakovsky.
.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Talvez, enfim.

 Niña, Joaquín Sorolla y Bastida, 1904
.
.
.
A superfície
suave convexa
não revela seu dentro
apenas brilha.
.
A entrada
estreita abóbada
é sóbria sombria
gruta.
.
A seqüência
rampa enovelada
se estreita num pasmo
labirinto.
.
O fim
limite íntimo
nada é além de si mesmo
ponto último.
.
A saída
é a volta.
.
.
Orides Fontela.
.
.

sábado, 1 de outubro de 2011

"Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê..."

 The Incredulity Of Saint Thomas, Caravaggio, 1601-1602
.
.
.
Agradeço a troca de opiniões, o carinho e a delicadeza dos quase 600 comentários do blog, mas o mecanismo ficará desabilitado daqui para frente. Motivo? Zerar-se. É preciso CRER em recomeços.
.
.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails