quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A priori...

Raphaelesque head exploding, Salvador Dalí, 1951
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."De há muito tinha notado que, pelo que respeita à conduta, é necessário algumas vezes seguir com indubitáveis opiniões que sabemos serem muito incertas... Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exatamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não ficaria qualquer coisa nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava."
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René Descartes, in: Discurso do Método.
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Não sabe de si mesmo a sua imagem..."

Monalisa, Leonardo da Vinci, 1507
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A arte é como uma ciência estética, tem vários segmentos e significados, quase sempre de densidade intraduzível. Ser compreendida das mais variadas formas, confere uma atmosfera atraente, inesgotável de possibilidades. Porém, algumas manifestações artísticas causam uma espécie de inquietação abissal. Uma admiração calcada no estranhamento, incompreensão, repulsa ou desconforto. Fiquei pensando à respeito quando o volume denso de uma leitura arranhou as paredes do meu esôfago. Um, dois... cinco copos d’água, A "História do Olho" desceu engasgada. E tal como ela, outras tantas. Se a arte se legitima ao ensimesmarmo-nos diante de sua representatividade, o que dizer quando isso acontece à palo seco?!.
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História do Olho, Georges Bataille, 1928
Violência e obscenidade formam uma mistura explosiva, sobretudo aqui, usadas como recurso criativo para subverter a visão comum. O corpo, vida/morte, o desejo, são retratados de uma forma bem libertadora. Lembro desse livro ter sido indicado na época da faculdade. Por algum motivo não li. Ainda bem, não estava preparada psicologicamente, sem trocadilhos.
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Lolita, Vladimir Nabokov, 1955
Um banho de prosa da mais eloqüente beleza estética para falar de uma paixão obsessiva. Como se paixões não fossem suficientemente perturbadoras, esta se realiza na rascante e insidiosa relação de um homem de meia-idade e uma pré-adolescente.
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Salò ou 120 dias de Sodoma, Pier Paolo Pasolini, 1975
Inspirado no livro do Marquês de Sade, este foi o último e mais chocante filme do diretor italiano. Abusa da perversão, fetiches, escatologias, torturas físicas, voyerismo... é um retrato repulsivo do que pode existir de pior no ser humano.
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Eraserhead, David Lynch, 1977
Pode-se afirmar que o diretor criou uma linguagem própria. Um universo lynchiano por assim dizer. O mais notável é que essa brincadeira com o real e o imaginário esteja impressa desde o seu primeiro filme.
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Laranja Mecânica, Stanley Kubrick, 1971
Kubrick trata fundamentalmente de livre arbítrio. É possível mudar a concepção moral de um homem, sua essência, suas compulsões? Clássico!
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Sete Pecados Capitais, Hieronymus Bosch, 1504
"Cuidado, cuidado, Deus vê" é o que se lê em latim no centro do painel. A esfera central tem o aspecto de um olho humano, Cristo estaria então dentro da pupila. Pecado, tentação, inferno, paraíso, imagens apocalípticas, tudo retratado com supremo aspecto alegórico.
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A Origem do Mundo, Gustave Courbet, 1866

O quadro representa a libertação do artista de todos os estereótipos. A nudez feminina antes de 'A origem', era retratada de forma quase mitológica. Com o realismo de Courbet o mito é deixado de lado, dando lugar a uma mulher real, nas formas, na sugestão do corpo como fonte de prazer. Essa realidade ostensiva provoca ainda hoje as reações mais inquietantes. Uma curiosidade: antes de pertencer ao acervo do Museu D’Orsay, seu último proprietário foi o psicanalista Jacques Lacan.
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El Sueño de La Razon Produce Monstruos, Goya, 1798
Amargura, tristeza, agressividade, melancolia, crueldade, são os temas dessa série de 80 gravuras intitulada "Os Caprichos". Representam a contestação política do artista com a Espanha daquela época.
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Meu Nascimento, Frida Kahlo, 1932

Para Frida, este quadro representa a forma como imaginava o seu nascimento. Ela o pintou depois de sofrer seu segundo aborto espontâneo e do falecimento de sua mãe. A pintura da margem à imaginação. A genitora morta dando à luz a uma Frida também sem vida, seu sentimento mortificado pelas perdas. Ou talvez uma alusão ao relacionamento incompatível que mantinham. Fica implícita uma sensação de abandono materno.
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La Pietá, Michelangelo, 1499
Existe algo mais perturbador do que a beleza irretocável?!
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"A fragilidade é bela porque a fragilidade é um sinal da existência.
A beleza é a harmonia do acaso e do bem.
A beleza seduz a carne para obter permissão de passar à alma.
O belo é um atrativo carnal que mantêm à distância e implica uma renúncia. Inclusive a renúncia mais íntima, a da imaginação. Queremos devorar todos os outros objetos de desejo. O belo é o que desejamos sem querer devorá-lo. Desejamos que seja assim.
A distância é a alma do belo.
O olhar e a espera, eis a atitude que corresponde ao belo. Enquanto podemos conceber, querer, desejar, o belo não surge. Por isso, em toda beleza há contradição, amargura, ausência irredutíveis..."
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Simone Weil.
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sábado, 14 de novembro de 2009

"Quaisquer flores, logo que sejam muitas..."

Laeliocattleya, Orquidário do Jardim Botânico
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Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas…
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
.Em me dardes muitas flores,
Nem isso… Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores…
Sejam essas as flores que me deis…
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Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
Sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
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Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.
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O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.
.A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
Caída no chão…
Qual é o sentido da vida?

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Fernando Pessoa.
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Cattleya Picasso, Orquidário do Jardim Botânico
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"Horas hay de recreación, donde el afligido espíritu descanse. Para este efeto se plantan las alamedas, se buscan las fuentes, se allanan las cuestas y se cultivan, con curiosidad, los jardines."
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Miguel de Cervantes.
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sobre: "O Sentir"

Série Daphnis et Chloé, Marc Chagall
Música: Arabesque No.1, Claude Debussy
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Finalmente fui ver a exposição do Marc Chagall. Foram duas horas imersa no melhor e mais difícil dos silêncios. Aquele que sentimos mesmo expostos a ruídos.
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Felizmente, estar em contato com o trabalho do artista exige mais que qualquer compreensão erudita. Tudo tem uma aura tão afetiva e cheia de simbolismo, que proporciona uma comunhão incomum de sentimentos.
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Lembrei das pinturas à guache do jardim... Quando permiti que as cores fortes que usava perdessem a intensidade, ficassem opacas pelo uso, pelo costume? De repente o rosa era tão rosa, o verde, o azul, o amarelo, tão mais amarelo. Aquele que meus olhos de 4 anos enxergavam e que me despertava o sono da tarde, quando as crianças dormiam em suas esteiras de palha. Tudo era silêncio e cor, e o mundo era cheio de plácida despretensão e doçura. 
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Não me recordo de quando deixei de voar em meus sonhos. Provavelmente no mesmo instante em que as cores desbotaram. Como me permiti apenas sonhar com os pés aterrados no chão? Antes de qualquer resposta indulgente, estavam suspensos, sem que de sonhos precisassem. Mergulhar no seu mundo de reminiscências, abriu uma porta para as minhas próprias. Os lugares, os amores, as pessoas... estava leve.
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Leve como no jardim... eu, meu tapete de palha, minhas cores fortes e a complacência de quando as coisas não precisavam fazer tanto sentido.
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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dualidades...

Faces on an Icon, Pavel Filonov, 1940.
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"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados."
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Fernando Pessoa.
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sábado, 7 de novembro de 2009

"O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer..."


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Dia desses ao sair na companhia da senhora minha mãe, rascunhei no pensamento observações que ganharam revisão e acabamento.
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Às sete horas estávamos paradas no ponto de táxi. Do percurso até lá, mamãe reclamou da noite mal dormida ao gotejo da pia da cozinha. Havia acordado de mal humor, certamente. Ignorando aquela perigosa condição, disse-lhe: Mãe, só tem 'Santana'! Não gosto de carros baixos, quando solavancam minha coluna grita. Ela sorriu debochando: "Que garota insuportável!" Não absorvi como indelicadeza e logo pensei na lógica das mães, a de que os filhos beiram a meninice eterna, e nessa fase ninguém tem problemas de coluna!
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Dois minutos depois, um carro com amortecimento confiável. Não tivemos tempo para sentir o constrangimento de quem pega carona com um estranho. O taxista era um senhor de meia idade simpatissíssimo ouvindo Baden Powell às 7 da manhã! Sem solavancos e com a virtuosidade do Baden, olhei pela janela e o Rio estava lindo, já havia iniciado a onda de calor que se prolonga por esses dias. O seu João, deixou-nos em nosso destino e foi-se, logo nos primeiros acordes de 'Berimbau'. Essa foi por pouco, dois ou três sinais fechados que fossem: "Quem de dentro de si não sai! Vai morrer sem amar ninguém! O dinheiro de quem não dá. É o trabalho de quem não tem! Capoeira que é bom não cai! E se um dia ele cai, cai bem!..." 
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No carro, na recepção onde chegamos, presteza e boa educação. Já na rua, mesmo andando apressadas na intenção de seus afazeres, nesse tipo de rotina que nos cega do entorno, várias pessoas disseram-nos 'bom dia'. Pensei: como gentileza e educação suavizam a vida! Pelo menos a minha! Independente da instabilidade dos meus humores, não preciso de muito para que a rotina ganhe contornos leves.
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Educação. Respeito. Delicadeza. Bom humor. Gentileza. Atenção. O sorriso da Clarinha. Amigos. Idas ao cinema. O mar. A falta de pressa e os olhares atentos dos passeios a pé. Cozinhar. Fotografia. Crianças. Animais. Anciões andando de mãos dadas. Música. Aprender algo novo todos os dias. Escrever. Céu aberto com nuvens esparsas. Arpoador. Bilhetes em guardanapo de papel. Cheiros. Casais conversando durante as refeições. Observar. Conhecer novos lugares. Comer algo que se tem vontade. A lembrança que mantém histórias e pessoas vivas. Flores. Utilizar eletrodomésticos sem ler o manual de instruções. Livrarias e cafés. Nadar. Infância. Abraços....
 

Costumo reescrever essa lista quando troco de agenda todos os anos. Um auxílio a minha memória e um retrato das mudanças pelas quais passo. Hoje, subtraio mais do que adiciono. O que me dá a sensação de que a tal leveza que suaviza os meus dias é a própria vida, que num momento ou outro foi sobrecarregada de vícios, omissões e maus hábitos. Por favor, não confundir vida tocada em prosa de Badens, Vinícius e Chicos... com vida fácil. Não tem nada de facilidade em viver. Mas há a desmistificação, que nos liberta dos excessos, das atitudes condicionadas e relativiza as importâncias.
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Talvez eu pegue um Santana da próxima vez... quem sabe. 




Berimbau, Badi Assad e Toquinho
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O significante e o significado...


Yael Naim, Yashanti
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A letra em hebraico altera a 'compreensão'?
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"A música é, diz-se, o indizível
por ser de inexprimível sentimento
da consciência, ou um estado de alma,
ou uma amargura tão extrema e lúcida
que passa das palavras para ser
apenas o ritmo e os sons e os timbres
só pelos músicos cientes de harmonia
e de composição imaginados. Mas,
se assim fosse, eles só dos homens
saberiam mover-se nos espaços
que a humanidade abandonada encontra
nos desertos de si. Começariam
onde a expressão verbal não se articula
por impossível. Viveriam sempre
na fímbria estreita à beira da maldade
e do absurdo, como que suspensos
na solidão da morte sem palavras.
Não é, portando, a música o limite
ilimitado dos limites da linguagem,
para dizer-se o que não é dizível.
Mas, se não é, que dizem lancinantes,
neste discreto passeio pelo tempo,
os quatro instrumentos semelhantes
no seu modo de criarem som?
Tão terrível. Sufocante. Doce
ou agridoce desconcerto harmônico.
(...) Não há tristeza alguma nesta
vida transformada em puro som,
em homogênea outra realidade?
Não é de angústia este rasgar melódico
da consciência antes de criar-se humana?
(...) Se há mistério na grandeza ignota,
e se há grandeza em se criar mistério,
esta música existe para perguntá-lo.
E porque se interroga e não a nós,
ela se justifica e justifica
o próprio interrogar com que se afirma
não quintessência ela, mas raiz profunda
daquilo que será provável ou possível
como consciência, quando houver palavras
ou quando puramente inúteis forem."
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Jorge de Sena, in: A Arte da Música.
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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Agenda: Woody Allen em 40 filmes...


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Para quem ainda cumpre resguardo pós Festival do Rio (quem assistiu 50 filmes ou mais, sabe do que estou falando), o CCBB vem com uma irresistível retrospectiva da carreira do cineasta Woody Allen.
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De amanhã até o dia 29 de novembro a mostra "A elegância de Woody Allen", exibirá 40 filmes entre longas-metragens dirigidos por ele e trabalhos nos quais atuou como roteirista ou ator. Ainda fazem parte da programação, cursos, exibição de filmes dedicados ao diretor e debates.
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A produção do cineasta levanta discussões acaloradas. É comum ouvir ressalvas sobre seu estilo, criticado por ser recorrente em cenários, situações, diálogos e na caracterização de tipos pernósticos, hipocondríacos e paranóicos. Mas há quem discorde, sobretudo o séquito de fãs que acompanham seus mais de 40 anos de carreira. Não sou crítica ferrenha, nem entusiasta fanática, mas gosto dele. Acho perspicaz a forma como traduz inquietações pessoais e a lógica das relações, afinal, todas aquelas "ruminaçõezinhas" são típicas dos relacionamentos e das nossas crises existenciais. Teorias à parte, constam em sua filmografia grandes clássicos. Nesta retrospectiva é imprescindível assistir: "Hannah e suas Irmãs", "Match Point", "A Rosa Púrpura do Cairo", "Crimes e Pecados", "A Era do Rádio", e os meus preferidos, "Manhattan" e "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".
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Programe-se:
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[1966] O QUE HÁ, TIGRESA? (WHAT'S UP, TIGER LILY?)Dia 07/11, sábado às 16h
Dia 18/11, quarta-feira às 17h30
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[1969] UM ASSALTANTE BEM TRAPALHÃO (TAKE THE MONEY AND RUN)Dia 20/11, sexta-feira às 15h30
Dia 25/11, quarta-feira às 17h30
Dia 29/11, domingo às 14h
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[1971] BANANASDia 05/11, quinta-feira às 19h30
Dia 14/11, sábado às 16h
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[1972] TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE SEXO, MAS TINHA MEDO DE PERGUNTAR (EVERYTHING YOU ALWAYS WANTED TO KNOW ABOUT SEX, BUT WERE AFRAID TO ASK)Dia 11/11, quarta-feira às 15h30
Dia 22/11, domingo às 20h
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[1973] DORMINHOCO (SLEEPER)Dia 06/11, sexta-feira às 17h30
Dia 21/11, sábado às 18h
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[1975] A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO (LOVE AND DEATH)Dia 14/11, sábado às 20h
Dia 17/11, terça-feira às 15h30
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[1977] NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (ANNIE HALL)Dia 15/11, domingo às 18h
Dia 19/11, quinta-feira às 17h30 *sessão seguida de debate
Dia 24/11, terça-feira às 18h30
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[1978] INTERIORES (INTERIORS)Dia 19/11, quinta-feira às 15h30
Dia 29/11, domingo às 16h
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[1979] MANHATTANDia 07/11, sábado às 20h
Dia 11/11, quarta-feira às 19h30
Dia 15/11, domingo às 14h
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[1980] MEMÓRIAS (STARDUST MEMORIES)Dia 07/11, sábado às 18h
Dia 26/11, quinta-feira às 17h30 *sessão seguida de debate
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[1982] SONHOS ERÓTICOS DE UMA NOITE DE VERÃO (A MIDSUMMER NIGHT’S SEX COMEDY)Dia 17/11, sexta-feira às 15h30
Dia 22/11, domingo às 16h
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[1983] ZELIGDia 17/11, terça-feira às 17h30
Dia 25/11, quarta-feira às 15h30
Dia 29/11, domingo às 20h
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[1984] BROADWAY DANNY ROSEDia 24/11, terça-feira às 17h30
Dia 28/11, sábado às 20h
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[1985] A ROSA PÚRPURA DO CAIRO (THE PURPLE ROSE OF CAIRO)Dia 08/11, domingo às 14h
Dia 18/11, quarta-feira às 19h30
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[1986] HANNAH E SUAS IRMÃS (HANNAH AND HER SISTERS)Dia 08/11, domingo às 18h
Dia 10/11, terça-feira às 15h30
Dia 13/11, sexta-feira às 19h30
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[1987] A ERA DO RÁDIO (RADIO DAYS)Dia 08/11, domingo às 20h
Dia 20/11, sexta-feira às 17h30
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[1987] SETEMBRO (SEPTEMBER)Dia 24/11, terça-feira às 15h30
Dia 28/11, sábado às 16h
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[1988] A OUTRA (ANOTHER WOMAN)Dia 21/11, sábado às 16h
Dia 26/11, quinta-feira às 13h30
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[1989] CONTOS DE NOVA YORK - SEGMENTO "ÉDIPO ARRASADO" (NEW YORK STORIES - SEGMENT "OEDIPUS WRECKS")Dia 20/11, sexta-feira às 19h30
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[1989] CRIMES E PECADOS (CRIMES AND MISDEMEANOURS)Dia 14/11, sábado às 18h
Dia 27/11, sexta-feira às 19h30
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[1990] SIMPLESMENTE ALICE (ALICE)Dia 05/11, quinta-feira às 17h30
Dia 10/11, terça-feira às 19h30
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[1991] NEBLINAS E SOMBRAS (SHADOWS AND FOG)Dia 06/11, sexta-feira às 19h30
Dia 11/11, quarta-feira às 17h30
Dia 15/11, domingo às 16h
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[1992] MARIDOS E ESPOSAS (HUSBANDS AND WIVES)Dia 17/11, terça-feira às 19h30
Dia 26/11, quinta-feira às 15h30
Dia 28/11, sábado às 18h
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[1993] UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN (MANHATTAN MURDER MYSTERY)
Dia 08/11, domingo às 16h
Dia 10/11, terça-feira às 17h30
Dia 12/11, quinta-feira às 19h30
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[1994] TIROS NA BROADWAY (BULLETS OVER BROADWAY)Dia 21/11, sábado às 20h
Dia 25/11, quarta-feira às 13h30
Dia 29/11, domingo às 18h
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[1995] PODEROSA AFRODITE (MIGHTY APHRODITE)Dia 13/11, sexta-feira às 13h30
Dia 22/11, domingo às 14h
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[1996] TODOS DIZEM EU TE AMO (EVERYONE SAYS I LOVE YOU)Dia 04/11, quarta-feira às 17h30
Dia 15/11, domingo às 20h
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[1997] DESCONSTRUINDO HARRY (DECONSTRUCTING HARRY)Dia 22/11, domingo às 18h
Dia 25/11, quarta-feira às 19h30
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[1998] CELEBRIDADES (CELEBRITY)Dia 27/11, sexta-feira às 15h
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[1999] SWEET AND LOWDONW (POUCAS E BOAS)Dia 04/11, quarta-feira às 19h30
Dia 13/11, sexta-feira às 17h30
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[2000] TRAPACEIROS (SMALL TIME CROOKS)Dia 18/11, quarta-feira às 13h30
Dia 27/11, sexta-feira às 17h30
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[2001] O ESCORPIÃO DE JADE (THE CURSE OF THE JADE SCORPION)
Dia 17/11, terça-feira às 13h30
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[2001] SOUNDS FROM A TOWN I LOVE (SOUNDS FROM A TOWN I LOVE)
Dia 07/11, sábado às 20h
Dia 11/11, quarta-feira às 19h30
Dia 15/11, domingo às 14h e 18h
Dia 19/11, quinta-feira às 17h30
Dia 24/11, terça-feira às 18h30
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[2002] DIRIGINDO NO ESCURO (HOLLYWOOD ENDING)Dia 06/11, sexta-feira às 15h30
Dia 10/11, terça-feira às 13h
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[2003] IGUAL A TUDO NA VIDA (ANYTHING ELSE)
Dia 05/11, quinta-feira às 13h30
Dia 20/11, sexta-feira às 13h30
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[2004] MELINDA E MELINDA (MELINDA AND MELINDA)
Dia 05/11, quinta-feira às 15h30
Dia 11/11, quarta-feira às 13h30
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[2005] MATCH POINT (MATCH POINT)
Dia 12/11, quinta-feira às 17h
Dia 24/11, terça-feira às 13h
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[2006] SCOOP - O GRANDE FURO (SCOOP)Dia 19/11, quinta-feira às 13h30
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[2007] O SONHO DE CASSANDRA (CASSANDRA’S DREAM)
Dia 06/11, sexta-feira às 13h30
Dia 12/11, quinta-feira às 15h30
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[2008] VICKY CRISTINA BARCELONADia 12/11, quinta-feira às 13h
Dia 18/11, quarta-feira às 15h30
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Mostra "A Elegância de Woody Allen"Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro
De 04 à 29 de novembro
Bilheteria: Ter à dom, das 10h às 21h
Ingressos: R$ 6 (inteira) R$ 3 (meia)
Mais informações no site da mostra.
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre os vícios do tempo: tédio, hábito e rotina.


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"Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos errôneos. Crê-se em geral que a novidade e o caráter interessante do seu conteúdo "fazem passar" o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos "aborrecidos"; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só; e numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos.
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O hábito é uma sonolência, ou, pelo menos, um enfraquecimento do senso do tempo, e o fato dos anos de infância serem vividos vagarosamente, ao passo que a vida posterior se desenrola e foge cada vez mais depressa, esse fato também se baseia no hábito. Sabemos perfeitamente que a intercalação de mudanças de hábitos, ou de hábitos novos, constitui o único meio de manter a nossa vida, de refrescar a nossa sensação de tempo, de obter um rejuvenescimento, um reforço, um atraso da nossa experiência do tempo, e com isso, a revolução da nossa sensação da vida em geral. Tal é a finalidade da mudança de lugar e de clima, da viagem de férias: nisso reside o que há de salutar na variação e no episódio. Os primeiros dias num ambiente novo têm um curso juvenil, quer dizer, vigoroso e amplo - seis ou oito dias. Depois, na medida em que a pessoa se "aclimata", começa a senti-los abreviarem-se: quem se apega à vida, ou melhor, quem gostaria de apegar-se à vida nota, com horror, como os dias começam a tornar-se leves e furtivos; e a última semana - de quatro, por exemplo - é de uma rapidez e fugacidade inquietante. Verdade é que a vitalização do nosso senso de tempo faz-se sentir para além do interlúdio, e desempenha o seu papel ainda quando a pessoa já voltou à rotina; os primeiros dias que passamos em casa, depois desta variação, afiguram-se-nos também novos, amplos e juvenis, mas somente uns poucos: porque a gente acostuma-se mais rapidamente à rotina do que à sua suspensão, e quando o nosso senso do tempo está fatigado pela idade, ou nunca o possuímos desenvolvido em alto grau - o que é sinal de pouca força vital - volta a adormecer muito depressa, e ao cabo de vinte e quatro horas já é como se a pessoa jamais tivesse partido e a viagem não passasse de um sonho de uma noite."
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Thomas Mann, in: A Montanha Mágica.
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