quinta-feira, 30 de abril de 2009

"I was on the wrong page, of the wrong book..."

Wrong, faixa do álbum Sounds of the Universe, Depeche Mode, 2009
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O que é relevante quando percebemos que cometemos um erro?
Culpa? Arrependimento? Autocrítica? Aprendizado? Reparação?
Equívocos serão cometidos por quase todo mundo um dia. E pelos motivos certos ou errados, você será julgado por isso... pelo que fez, pelo que não fez, pelo que pensou em fazer. É um processo de crescimento meio amargo, algo como um mal necessário. 


segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Continue a nadar... continue a nadar, nadar..."




Passara parte da vida, achando que havia algo de errado.

E mergulhava em si, cada segundo que dispunha, desejoso por entender.
Afinal, por que meus movimentos são limitados?
Ao invês de continuar buscando o sentido das coisas,
Resolveu amoar-se menos.
Nem sempre precisa haver sentido.
As coisas são como são, mesmo quando não entendemos seu propósito.
Se os movimentos são limitados, tentarei fazer o melhor do meu pouco espaço.



* * *

"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
(...) Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
(...) Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
(...) Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei..."

Oswaldo Montenegro.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Memories, dreams, reflections... and thirst.

Frédéric Chopin, Noturno Op.9 No.2, por Yundi Li
"Onde seu tesouro está, estará também seu coração."


Com a justificativa de promover algumas mudanças nesse espaço (o blog dispõe agora de links selecionados, encurtando a distância entre o que fala por mim e vocês, espero que apreciem). Esmiucei minhas “coisinhas”, não me refiro as palpáveis, mas as que não levantam pó. Aquelas cujas caixas não são necessárias – as lembranças.

Buscando os vestígios dos discos que ouvi, filmes que assisti, imagens gravadas na retina, ocasiões em que o coração disse além do pulsar, vislumbrei um conteúdo cheio de variáveis. Bagagens que você acumula durante uma vida e que te dão certa noção do quanto aproveitou cada espaço ocioso com o que realmente faz sentido.

Mas quando ainda existe muito por vir, é de crucial importância deixar lugar para o inconformismo, há de haver um canto para ele, mesmo que no saco de meias. Ele responde pelas inquietudes. O meu sinaliza que há em mim uma necessidade urgente de promover mudanças, uma ânsia por um gole entusiasmado de vida. Desejo-o tanto e percebo que ainda tenho sede.

Que tipo de pessoa você é? A que ao matar a sede, segura o copo com as duas mãos e goteja líquido pelos cantos da boca, respingos na camisa... ou aquela que com uma mão, beberica goles curtos e deixa dois dedos no final, mesmo ainda insatisfeita?

domingo, 12 de abril de 2009

Das tintas dos meus dias.

  O Abraço, Gustav Klimt, 1909
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"À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em alguns quadros, as linhas originais: através de um vestido de mulher surge uma árvore, uma criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar aberto. Isso se chama Pentimento, porque o pintor se arrependeu, mudou de idéia. Talvez se pudesse dizer que a antiga concepção, substituída por uma imagem anterior, é a forma de ver, e ver de novo, mais tarde."

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Liliam Hellman.
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Seria bom começar racionalizando, sem a preocupação de que um roupante de sensibilidade comprometa irremediavelmente o que fora traçado. Erros talvez não pesassem tanto. Equívocos seriam seguidos por sorrisos. Enigmas ganhariam cifras e as caixas de pandora seriam apenas souvenirs. Corria-se até o risco de finalmente concluir a pintura inacabada que se é.

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?

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Nenhuma época, nem a Natalina, lembra-me tanto a infância quanto a Páscoa.

Rememoro o quanto eu e meu irmão ficávamos ouriçados nesse período... os ovos eram pequenos, mas aos nossos olhos, o suficiente!

A vida, o seu andamento sem presa era suficiente.

Tenho saudades de tudo.
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segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Choro Copioso...

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Chorar me dói a cabeça
Incha-me os olhos
Relativiza a minha emoção e o meu pesar
 

Exorciza aquilo que não cabe em mim
Desopila o coração cansado
Molha minhas páginas em branco.
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Conforta-me, sobretudo
a salinidade, a transparência
e a produção sempre obsequiosa.
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Uma lágrima não pede nada em troca
Como não há escambo,
nada implica uma troca de gentilezas
Firma-se assim um trato,
Tomo-a para dançar com a mais resoluta verdade
e ela segue agradecida o seu caminho em vértice.




* * *

"Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é aquela que toca na minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. TODA A MINHA ÂNSIA TEM SIDO ESTA PROXIMIDADE INULTRAPASSÁVEL E EXCESSIVAMENTE PRÓXIMA. Sou mais aquilo que em mim não é.

EU SÓ USO O RACIOCÍNIO COMO ANESTÉSICO. MAS PARA A VIDA SOU DIRETAMENTE UMA PERENE PROMESSA DE ENTENDIMENTO DO MEU MUNDO SUBMERSO. Agora que existem computadores para quase todo o tipo de procura de soluções intelectuais — volto-me então para o meu rico nada interior. E grito: eu sinto, eu sofro, eu me alegro, eu me comovo. Só o meu enigma me interessa. MAIS QUE TUDO, ME BUSCO NO MEU GRANDE VAZIO. Procuro me manter isolada contra a agonia de vi­ver dos outros, e essa agonia que lhes parece um jogo de vida e morte mascara uma outra realidade, tão ex­traordinária essa verdade que os outros cairiam de es­panto diante dela, como num escândalo. Enquanto isso, ora estudam, ora trabalham, ora amam, ora crescem, ora se afanam, ora se alegram, ora se entristecem.

A vida com letra maiúscula nada pode me dar, porque vou confessar que também eu devo ter entrado por um beco sem saída como os outros. PORQUE NOTO EM MIM, NÃO UM BOCADO DE FATOS, E SIM PROCURO QUASE TRAGICAMENTE SER. É uma questão de sobrevivência assim como a de comer carne humana quando não há alimento. Luto não contra os que compram e vendem apartamentos e carros e procuram se casar e ter filhos, mas LUTO COM EXTREMA ANSIEDADE POR UMA NOVIDADE DE ESPÍRITO. Cada vez que me sinto quase um pouco iluminada vejo que estou tendo uma novidade de espírito.

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. NÃO TEMOS ACEITO O QUE NÃO SE ENTENDE PORQUE NÃO QUEREMOS PASSAR POR TOLOS. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. NÃO TEMOS NENHUMA ALEGRIA QUE NÃO TENHA SIDO CATALOGADA. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. NÃO NOS TEMOS ENTREGUE A NÓS MESMOS, POIS ISSO SERIA O COMEÇO DE UMA VIDA LONGA E NÓS A TEMEMOS. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.

Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios. TEMOS MANTIDO EM SEGREDO A NOSSA MORTE PARA TORNAR A VIDA POSSÍVEL. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. TEMOS DISFARÇADO COM O PEQUENO MEDO, O GRANDE MEDO MAIOR E POR ISSO NUNCA FALAMOS NO QUE REALMENTE IMPORTA. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. TEMOS CHAMADO DE FRAQUEZA A NOSSA CANDURA. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."



Clarice Lispector,
in: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres.

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