quinta-feira, 12 de março de 2015

(silêncio) o silêncio diz


Then at one point i did not need to translate the notes; they went directly to my hands, Francesca Woodman, 1976

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começar de dentro. do interior de onde as coisas começam. onde terminam sua elipse vertiginosa. o interior é o fim da partida. é o começo da volta. sair como quem volta. voltar como quem sai. a ficção viagem.
estar perto da própria coisa não está longe do extravio. veja as mãos do adolescente suando frio sem saber virar as páginas de um livro.
o interior é o lugar do extravio. onde não se fica. que lugar é um lugar onde não se fica? quando se chega ao limite. o limite é interior.
do interior se vai. como de pequenas cidades you know you have to leave. não se fica. no interior se chega. do interior se vai. aonde se chega no interior não se fica. areia cabra pedra e grito. mas não se fica.
o interior se trai se realiza. só se realiza quando se trai. o exterior das coisas é quando o interior se trai. por isso não há exterior puro poesia pura. aquilo que não se trai.
não há silêncio que não se traia.
no interior as coisas ressoam ocas. nada para ver. aqui só se ouve a coisa oca soar. um barco emborcado soa devolvido pelo rio debaixo da amoreira.
a ficção origem. a ficção precisa ser cultivada memória aparada mentira amparada. piedosamente. velha história morno ludíbrio da literatura.
a ficção interior é bem real. é a terra. um chão onde cair. ter onde cair morto é motivo de partir.
interior. se for pra partir quero que seja para não deixá-lo. aqui tudo começa como forma de não se deixar cair. quem nunca caiu de uma árvore precisa de segurança? quem já se jogou de uma árvore conhece a dor da queda?
(silêncio) o silêncio diz
você não reclama não pede não aceita não fica não arreda o pé. o interior se fecha se oferece. carrapicho áspera misericórdia.
Marcos Siscar.

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